22. Apenas Sinta

Começar do início
                                    

Evelyn tinha comprado ingressos para os melhores assentos, os que ficavam no andar superior à direita do palco; Charles abriu a porta que dava acesso aos lugares, e ela soltou um longo suspiro ao sentar-se.

— Mas que cretino, como pode estar aqui se nem gosta de teatro e quem dirá ópera? — Resmungou ela ajeitando-se — Realmente não sei o que há com vocês homens, um dia são prestativos e no outro são tão cretinos.

Charles a encarou por alguns segundos, não disse uma palavra sequer, apenas a deixou falar, balançou descontroladamente a cabeça e voltou seus olhos para frente, na direção do palco. Alguns segundos depois, ele sentiu a mão dela apertar a sua, fazendo-o se virar em sua direção.

— Não pode ser! — disse, virando-se na direção de Charles — Aquele desgraçado vai sentar-se ao nosso lado?

Michael só podia estar brincando, mas o rosto perfeitamente maquiado de Evelyn ferveu de raiva, deixando evidente que estava arrependida de estar ali. Por um segundo, Charles cogitou levantar-se para ir embora, mas, para sua surpresa, as luzes se apagaram, dando início à apresentação.

Aquelas seriam as duas horas e meia mais longas de toda a vida de Charles. Enquanto se ajeitava, ele voltou seus olhos na direção dela e ficou encantado com a sua beleza deslumbrante. Charles teve que se esforçar para não rir ou demonstrar qualquer reação. Eve, por sua vez, não conseguia prestar atenção na peça que estava sendo apresentada.

Charles se inclinou em direção a ela, que fez o mesmo, e quando se virou para dizer algo, seus rostos se chocaram e quase se beijaram. Rapidamente, ele se endireitou e, felizmente, a pouca luz escondeu o rubor em seu rosto. Evelyn revirou os olhos, mas se aproximou dele.

— Essa música está me dando dor de cabeça — murmurou ela, roçando levemente a ponta do nariz no rosto de Charles. — Podemos ir para outro lugar e tomar algumas bebidas.

Ele concordou; afinal, já tinha assistido à peça "Romeu e Julieta" umas dez vezes. Ela se levantou tão rapidamente que acabou esbarrando em Charles. Evelyn arfou, estava propensa a desastres naquela noite. Seus pés dobraram e ela quase perdeu o equilíbrio, mas a mão habilidosa de Charles a salvou da queda. Agora estavam em pé, separados apenas por um pequeno espaço entre seus corpos.

Por um segundo, Evelyn encarou Charles e sentiu seu coração disparar no peito. Rapidamente, ela se afastou em direção à porta de saída. Ela precisava dele para que seu plano fosse concretizado. Murmurou para si mesma que tudo estava indo conforme o planejado; não havia motivos para entrar em pânico. Respirou fundo e continuou seu caminho em direção à saída.

Byron estava sentado conversando com outros dois motoristas na frente do teatro. Ele havia estacionado o carro e, ao ver Eve parada na porta de entrada, se levantou desajeitadamente. Jogou o cigarro fora e dirigiu-se até ela.

— Senhorita! — disse o motorista, mostrando um pequeno sorriso.

Evelyn o encarou por alguns segundos e depois olhou na direção de Charles, que estava logo atrás dela.

— Byron, você está dispensado por esta noite — disse ela, sorrindo educadamente. — Vamos até um barzinho que não é tão longe, e depois voltamos de táxi.

O motorista permaneceu estático, encarando-a.

— Está garoando, senhorita — respondeu ele.

— Está dispensado, Byron. Optamos por ir a pé até o barzinho, que fica a algumas quadras daqui.

Antes que ele pudesse mais uma vez insistir em levá-los até aquele barzinho, Evelyn continuou caminhando em direção aos degraus, seguida por Charles. Consciente de que tinha feito papel de tola novamente, fingindo ser quem não era, a boa moça, ela respirou fundo e se virou na direção de Charles, que mantinha os olhos fixados no asfalto molhado da rua quase deserta.

Amor  Por AcasoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora