15. As Peças

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A tarde desdobrava-se em cores suaves, pintando o céu com uma beleza digna de uma obra realista e envolvendo a atmosfera em um clima sereno. Na varanda, a morena estava tranquilamente assentada em sua cadeira, mas algo capturou sua atenção no campo. Levantou-se, inclinando-se sobre a barra de proteção, os olhos fixos em algo distante. Um ruído repentino a fez erguer-se, deixando a xícara de café escapar de suas mãos, quebrando o silêncio aconchegante que envolvia o ambiente.

Do outro lado da varanda, Charles permanecia de pé, vestindo uma camisa social branca que realçava seus ombros largos, segurando o jornal com a mão esquerda. O encontro visual entre os dois foi o único som, em meio a um silêncio calmo, criando uma tensão perceptível no ar, como se a atmosfera estivesse grávida de expectativa.

— Boa tarde para você também — anunciou Evelyn, inclinando a cabeça levemente para o lado, seu sorriso caloroso refletindo sua saudação.

Os olhos de Charles abandonaram o jornal e encontraram os dela, uma expressão de surpresa e interesse se formando em seu rosto.

— Boa tarde, senhorita Collins — respondeu ele, devolvendo-lhe o sorriso.

Evelyn franziu ligeiramente a testa, mas seu sorriso permaneceu. Ela se aproximou da barra de proteção ao lado de Charles, o aroma de seu perfume caro pairando no ar, convidativo e sedutor. Com um movimento gracioso, ela se inclinou provocativamente sobre a barra de ferro, uma onda de confiança irradiando de seus gestos, enquanto afastava uma mecha teimosa de seu rosto.

— Já falei que pode me chamar apenas de Eve — corrigiu, com um tom amigável.

Charles desviou novamente o olhar para o jornal, mas não antes de permitir-se um breve instante de contemplação dos encantos da morena. Evitando seu olhar, ele tentou disfarçar a súbita timidez.

Ele não disse nada, apenas balançou a cabeça levemente, mantendo-se aparentemente concentrado nas notícias do jornal. Evelyn mordeu o lábio inferior, observando-o com curiosidade. Como alguém com sua presença poderia demonstrar tamanha hesitação? A pergunta flutuou em sua mente enquanto ela o estudava.

— Não é nada educado ficar encarando alguém dessa forma — repreendeu-o, com um toque de diversão em sua voz.

Uma risada escapou dos lábios de Evelyn enquanto ela acompanhava a brisa suave que brincava em seu rosto, desfrutando da sensação de liberdade que ela trazia.

— Eu sei, mas é que tenho esse pequeno defeito e adoro ficar analisando as pessoas. Dá para descobrir alguns segredos escondidos em seus movimentos — explicou ela, com um brilho travesso nos olhos.

Charles abaixou o jornal, encontrando o olhar penetrante de Eve, com um sorriso que revelava sua curiosidade. Ela emanava uma aura de encanto e inocência, uma combinação irresistível.

— Me diga o que meus "movimentos" dizem, então? — provocou ele, inclinando-se ligeiramente na direção dela.

Ela correspondeu ao gesto, sorrindo abertamente enquanto se preparava para o jogo de interpretações.

— Sério!? — exclamou, brincalhona. — Ok! Vamos começar. Você é um bom ouvinte e muito cauteloso, digamos que se encaixa no perfil tradicional dos homens que preferem manter sua distância.

O olhar de Charles capturou o dela, ponderando suas palavras com interesse genuíno.

— Boa sugestão, mas prefiro "cauteloso" em vez de inquieto — retrucou ele, mantendo-se descontraído.

— Não! — respondeu ela com espontaneidade, provocando-lhe um sorriso.

Ele descruzou os braços, inclinando-se ligeiramente para trás na cadeira, curioso para ouvir mais.

Amor  Por AcasoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora