16 - O novo morador da vila

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Andei pela vila despreocupado pois sabia que Rudah estava com Misha e nenhum nem outro queria realmente a minha presença ali.

Havia uma certa movimentação na casa de uns anciões. Aquele velho que falou demais na casa da menina Misha dizendo que a vila teria medo da floresta estava estranhamente eufórico quando amanheceu.

Ele passava de uma casa a outra chamando os demais anciões e todos fizeram uma comitiva para casa da menina Becca. Achei prudente avisar a Rudah e Misha que ainda dormiam no telhado que em breve teriam visitas, e talvez fosse melhor Misha estar em seu quarto caso fosse chamada.

- Rudah! Acorde! - digo, e ele pisca os olhos devagar. - Acorde Misha, ela precisa voltar para o sótão. Os anciões estão reunidos entrando na casa.

- Ai Vlad! Está muito cedo. - resmunga sonolento.

- Misha? - ouvimos a voz de Becca - Misha, posso entrar?

- Acorde Rudah! - Grito forte dessa vez ele levanta rápido acordando sem querer a menina Misha.

- Misha? - Becca chama mais uma vez.

Misha encara Rudah limpando os olhos e ouvido a voz de Becca.

- Estou indo. - grita no vão da janela para a amiga. - Estou terminando de arrumar-me.

- Precisa de ajuda? Abra a porta que lhe ajudarei a amarrar as vestes.

- Não precisa! Estou terminando. Descerei daqui a pouco. - ela fala e depois pendura-se na janela. Balança a mão despedindo-se de Rudah e fecha o vidro.

Como sempre Rudah pede-me que acompanhe ela. Eu já estava pensando em fazer isso mesmo, só aguardo o tempo em que a menina leva para trocar de roupa e a espero do lado de fora do corredor da casa.

Vejo novamente o grupo de anciões apinhados na casa da menina Becca. Eles parecem impacientes com a demora de Misha.

Passado um tempo deveras rápido Misha sai do sótão descendo as escadas. Havia trocado o vestido de cerimônias que usou para encontrar-se com Rudah pelo vestido normal de trabalhos no campo. O cinza sem graça com um avental branco.

- Bom dia senhores, - ela comenta ao chegar no ambiente - a que devemos a honra de ilustre visita em nossa humilde residência? - Misha fala já demostrando a todos que como era de seu gosto está na casa da mãe de Becca. E nada que eles dissessem a faria mudar de ideia.

- Viemos para informá-la que conforme solicitado tendo percebido que a senhorita tem participado com progresso de suas tarefas e agradecemos ao vosso empenho e dedicação. Como havia nos pedido arrumamos um novo morador para sua antiga residência. De modo que agora a senhorita poderá morar aqui sem ter que fazer as obrigações da sua antiga casa.

A menina Misha pisca confusa.

- Essa é sua nova casa Misha. Suas responsabilidades serão apenas com os pães. As ervas e flores ficarão a cargo dos novos moradores.

- E quem são esses? - Becca pergunta espremida em um canto.

- Senhor e senhora Fragons. - disse a velha de cabelos brancos - Acabaram de chegar na vila e pediram pelo nosso auxílio. Como sua casa está vaga e a senhorita não fazia questão dela demos a eles. Já estão lá se acomodando. Chegaram essa manhã. São um casal muitíssimo simpáticos.

- Creio que a senhorita que tenha tido tempo de pegar seus pertences valiosos correto? - o velho pergunta.

- Sim. - Misha responde sem saber sobre o grimório. Balanço a cabeça sem acreditar que tivemos várias vezes naquela casa com milhões de oportunidades e agora tudo ficou mais difícil.

- Gostaria de saber apenas se a senhorita acompanharia o senhor Fragons a floresta para mostra-lhes as trilhas e os locais mais fáceis de achar as flores e as ervas.

- Com todo o prazer. - Misha responde. - Posso fazer hoje mesmo caso ele esteja disponível.

- Estonteante! - o velho exclama - Irei levá-la para conhecê-lo agora mesmo.

Misha não diz a ele que acabou de acordar e mal teve tempo de alimentar-se. Normalmente não diz-se não a um ancião. E a menina sabia que ao recusar morar sozinha na casa e unir-se a uma família já havia esgotado a sua cota de "nãos" com os anciões. Apenas acatou a ordem.

Entretanto a mãe de Becca sempre atenta, e solicita pegou uma fruta na bandeja e deu para a que a menina fosse comendo pelo caminho.

Misha agradeceu acenando silenciosamente e seguiu ao grupo de anciões para fora da casa. Dessa vez apenas um o velho chato que carregava um relógio de bolso foi quem a acompanhou sozinho para sua antiga casa já dominada pelos novos donos.

- Senhor Fragons é um homem muito distinto aparenta ser de grande valia para nossa vila. Seus braços são fortes penso até em caso eles tenham um filho uni-los com os Mavis. Os Mavis precisam de braços fortes para arar a terra. Colher ervas e flores é pouco trabalho para uma pessoa com aquele tamanho. Veremos uma forma mais útil de aproveitar seus braços fortes, sua esposa pode tomar conta das ervas e das flores.

- Estás enganado se pensa que colher ervas e flores é um trabalho simples e fácil. Muitas ervas nascem espalhadas e é preciso andar muito pela floresta para achá-las senhor ancião.

- Não estou me desfazendo do trabalho menina. Estou apenas analisando nossos recursos. Todos as casas e suas tarefas são mais do que necessárias nessa vila. Porém precisamos unir casais que sabemos que podem ter mais valia em certas tarefas. Pena o senhor Fragons já ser casado. Tudo seria mais fácil se ele não fosse. Mas aí não ocuparia vossa casa. E creio que estás muito feliz por poder passá-la adianta, correto?

- Sim, estou felicíssima - Misha responde em tom de ironia ao qual o velho não percebeu. Ainda bem! Poderia ter sido considerado um desrespeito à um ancião.

Caminharam até a casa bem lentamente pois o velho não era a pessoa mais rápida do mundo para se locomover. Misha ofereceu um braço que havia sido aceito pelo velho. Uma das mãos do velho repousava em seu próprio quadril reclamando muitas vezes de suas articulações.

As casas eram uma ao lado da outra, mas parecem muito mais longe com os passos lentos que o velho dava. A menina Misha sempre caridosa ajudava-o e esperava seu tempo com uma extrema paciência. Creio que não sentia-se nem um pouco incomodada ao demorar mais para conhecer os novos donos de sua casa.

Ao chegarem na frente o velho bateu três vezes.

Um homem distinto, bem vestido com roupas de linho um terno que aparentava bem caro botas de couro apareceu na porta.

Seu rosto era forte, tinha um maxilar quadrado e um nariz adunco, uma barba grande fofa saía de sua cara e suas sobrancelhas rebeldes pareciam enormes quando olhadas de lado.

- A que devo a honra senhor ancião desta vila? - ele fala reverenciando o velho.

- Como pediu-me trouxe a menina que morava nessa casa para lhe mostrar a aparência das ervas as quais o senhor disse não conhecer. - o velho respondeu apoiado em sua bengala.

- Maravilhoso! É um prazer enorme conhece tal ilustre pessoa. Minha esposa adorou a casa. Estava em perfeitas condições. Gostaríamos de agradecer-lhe pela gentileza de nos ceder.

- Imagine senhor, o prazer é todo meu. Espero que seja feliz aqui tal qual eu sempre fui com a minha família anteriormente. - Misha deseja de uma forma polida e sincera.

- Ohh desgraça! Onde está a minha educação? - o velho resmunga batendo a mão na testa - Desculpe-me senhorita e cavalheiro por essa gafe. Irei apresentá-los formalmente. - o velho ajeita os óculos - Senhor Fragons essa é a menina Misha Malta. E senhorita Misha esse é o senhor Cedric Fragons.

O Espectro (Segredos de Marion #1) ✔Onde as histórias ganham vida. Descobre agora