Finados - 1/2

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Finados – 1/2

"Clássico"

"...A chuva de sempre que nunca falha em vir e cair nesses dias que fazem as homenagens aos mortos..."

Lá estava eu, sentado no alto de uma árvore em um canto da cidade, observando o grande fluxo de humanos, grandes e pequenos passarem pelas estreitas ruas e vielas. Aquelas maquinas gigantes que levavam as pessoas de um lado ao outro, totalmente cheios e sem espaço nem mesmo para um inseto no chão. E eles continuam a se espremerem.

– Coitados... – Dizia a min mesmo.

Logo eu me lembrei daquela criança do início do ano que me viu.

Acabei dando um sorriso alegre por ter sido visto.

Rápido a tarde caia dando lugar ao pôr-do-sol, e logo, á noite.

Já começava a ver as pequenas gotas de chuva que caiam constantemente na véspera do dia de todos os santos.

Não demorou muito para eu começar a ver eles andando solitários na rua. Sozinhos, desolados a procura de seus parentes que moravam nesta região.

– Pai – Uma voz me chamou de lado tirando a minha atenção.

Era o meu filho, um pequeno lobo-guará que havia acabado de chegar para me ajudar a ficar de olho na situação.

– Sente se filhote – Disse eu tranquilamente e com um sorriso no rosto.

Ele se sentou e ficou olhando comigo.

Conforme a noite avançava a temperatura caia e muitos humanos na rua, pegos desprevenidos acabaram se molhando com o aumento do chuvisco para garoa constante ou sentindo muito frio.

Eu e meu filho continuávamos conversando brevemente sobre alguns assuntos enquanto olhávamos os espíritos andando.

– Pai, por que eles estão andando assim? Desolados no dia deles? Ou na véspera – O meu filho me pergunta.

Olhando os espíritos e um grande terreno vazio a frente de onde estávamos eu respondia.

– Por que eles não têm um motivo para estar feliz – Respondi e logo acrescentei – Eles se alegram ou se acalmam ao ver ou reencontrar a família deles, mas nem todos conseguem isso, ou melhor, a grande maioria não consegue. Ai muitos deles ficam assim, tristes e de cabeça baixa, às vezes chorando...

Meu filho ficou pensativo em silêncio.

Até que uma ideia fora do comum me passou pela mente e olhei para o meu filho.

- Filhote, vamos alegrar a vida deles um pouco, antes deles voltarem para o descanso dele? – Perguntei olhando para ele com um sorriso animado.

– Claro! – Me respondeu o meu filho muito mais animado do que eu e abanando rápido o rabo dele. – E o que vamos fazer pai? – Perguntou no final todo contente.

-Uma festa – Respondi – Ali – Acrescentei apontando para o terreno cheio de maquinas paradas.

Logo a garoa fina e fria se tornava mais grossa, molhando tudo o que faltava ser molhado e o vento que estava ameno, se tornava forte.

Olhando do alto e entre as arvores, a única beleza que víamos eram as luzes, que iluminavam o caminho dos humanos, passando entre as gotas da garoa levadas pelo vento forte, dançando no ar até tocar algo.


Contos de Um Lobo na Cidade - Vol. 2 - Histórias Não ContadasOnde histórias criam vida. Descubra agora