1.Olá, Kate.

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''Alice: Quanto tempo dura o eterno?

Coelho: Às vezes apenas um segundo. ''

-Lewis Carroll

_*_

-Chega de desenhar, Katherine! – a voz de Maris, mãe de Kate, ecoou pelas paredes do pequeno cômodo onde ela estava instalada. Kate se encolheu ainda mais no canto. Olhou pela janela, vendo os pássaros piarem a fora. O galho podre batia a sua janela, como se quisesse invadir. – Você precisa sair desse quarto! Fica trancada nele o dia todo! Ande logo, vai se atrasar para o seu primeiro dia na faculdade!

-Desculpe mãe. Já estou descendo. – ela falou em decibéis bem mais baixos que os que a mãe usara. Kate colocou as mechas ruivas atrás da orelha e pôs seus óculos que sempre pendiam a cair de sua face, seja qualquer movimento que fizesse. Seus olhos aprofundados de uma doçura imensa, onde poucas pessoas poderiam aproveitar. Seria, Maggie Wilson e Sara Odawei.

Ouve-se um estrondo que parecia de arrancar os tímpanos. Seus pés estavam descalços sobre o piso gelado. Correu até a janela e viu que a chuva estava tomando conta de sua visão. As gotas grossas caindo no chão, deixando aquele delicioso cheiro de terra molhada que Kate tanto ama. Ela sorriu olhando ao seu redor.

-Ande logo, Katherine! Não me faça perder a pacatez!

-Sua pacatez já foi perdida há muito tempo, mamãe. – Kate diz, ainda sorrindo pela chuva.

-Eu  ouvi! Ande logo, antes de tudo ficar um breu.

Kate catou sua mochila que estava entre os lençóis bagunçados da cama e desceu os degraus rapidamente como uma criança. Ora, era uma menina de dezoitos anos e já poderia ter uma mente mais sensata. Porém, Kate, gostava de agir de uma maneira peculiar em relação às outras adolescentes ao seu redor. Ela sempre se notou diferente das outras raparigas da sua idade. Kate, nunca deixou de ser criança. Ela sempre sonhava com fadas, duendes, Pégaso entre outros animais considerados mitológicos. Sua mãe a considerava especial.

-Kate, perdoe-me por gritar daquela maneira. Sei que você não merecia. Não estou tendo um bom dia. – sua mãe falou simplicidade, enquanto bebericava o café.

Kate apenas assentiu. Sua boca estava ocupada apreciando o doce e quente sabor do chá desconhecido que fizera. Sua mãe olhava esperando uma resposta. Ela limpou a garganta e pôs se falar:

-Mamãe, eu lhe perdoo. – ela disse sorrindo. Sua mãe retribuiu o olhar.

-Hora de irmos.

-Sim. – sua voz saiu como um murmúrio.

As duas mulheres foram até a garagem para retirar o carro como de costume. Um vento frio cessou a chuva que caia fortemente sobre elas.

-Precisamos nos apressar, mas não tanto. A estrada deve estar escorregadia. – sua mãe falou.

Kate assentiu e sentou-se no banco carona. Sua mãe acelerou e Kate ficou de olhos na estrada vazia. Kate e sua mãe moravam longe de tudo e todos. Para elas se locomoverem até o centro, era algo praticamente impossível, pois levava duas horas de uma longa viagem de muita terra e pouco asfalto, então Kate tinha uma vida no interior do Kansas e estava começando uma faculdade nesse mesmo interior. Sua vida era voltada para as fantasias fúteis de uma adolescente deslocada e um tanto emocional.

A vida de Katherine Villar Vanosky era voltada para poemas, pinturas extraordinárias, canções e amores não correspondidos. Kate rezava para que tudo desse certo na vida dela de agora em diante, mesmo não sendo tão fervorosa quando o assunto era religião.

-Kate, querida, por que estás tão distraída?

-Perdoe-me, mamãe.

Ambas ficaram em silêncio até chegar àquela pequena faculdade rústica.

-Boa aula.

-Obrigada.

Kate sempre foi uma pessoa de poucas palavras quando papeava com familiares, sendo mãe ou qualquer pessoa mais intima. Ela sempre foi aberta as suas duas melhores amigas que agora estavam indo ingressar na mesma faculdade que ela.

-Hey, Kate! – Sara e Maggie a cumprimentaram. Kate acenou. – Está preparada?

-Não muito, eu me acostumei muito com o ensino médio.

-Ora, você vai fazer tudo o que sempre sonhou! Artes plásticas!- Sara exclamou com uma alegria contagiante. Quisera Kate estar assim.

-Eu estou cansada dessa realidade, Sara.

-O que andou comendo, menina? – Sara arregalou com olhos depois da bendita fala da amiga. Ora, isso é coisa que se ouve?

-Quieta, deixe a menina!- Maggie a repreendeu.

-Tu queres desistir da faculdade tão sonhada? – Sara perguntou cerrando os olhos.

-Não! Claro que não quero. – Kate piscou os olhos nervosamente.

-Você não consegue mentir para mim, Katherine.

Kate revirou os olhos. Detestava quando a chamavam pelo nome inteiro.

-Vamos entrar, está na hora.

_*_

Depois de três horas de teoria sobre a História da Arte, Kate bocejou alto e esbarrou com um menino completamente inebriante. Ele sorriu de uma maneira sedutora e passou as mãos sobre o cabelo.

-O que uma bela jovem faz nessa porcaria?- ele disse arregalando os olhos.

-Cale-te. Essa faculdade é muito boa.

Ele deu uma gargalhada contagiante. Quem seria ele?- pensou.

-O que você quer? – ela resolveu por fim, perguntar.

-Um, ter você seria uma ótima opção, querida.

-Ora, vás procurar algo para fazer! Não vê que estou ocupada?

-Você estava andando.

-O que é muito melhor que falar com convencidos como você. Dá-me licença.

Ela empurrou o jovem rapaz que fez uma cara ainda mais inapropriada olhando milimetricamente para o corpo da jovem moça.

-Ainda vai me querer Katherine. – ele gritou e ela apenas o ignorou. Como ele sabia meu nome? – ela pensa bufando em voz alta.

Andou rapidamente, com a raiva ferventando em sua cabeça. Assim que saiu da faculdade, encontrou o carro velho de sua mãe. Ela buzinou e Kate revirou os olhos. Tinha tanta necessidade de buzinar? Ora!

-Mamãe, eu vi você, não precisava buzinar! – seu rosto estampava a vergonha.

-Desculpe. – sua mãe disse sorrindo amarelo.

Kate bufou. Naquele instante pensou que seu período pré-menstrual havia chegado, mas era só coisas que acontecem em um dia ruim. Que realidade bastarda!

Assim que adentraram a casa, Kate correu até o seu quarto e jogou-se em sua cama macia. Ficou encarando o teto branco por algumas horas e dormiu.

-Olá, Kate. – uma voz a despertou. A voz que ela pensou não ouvir nunca mais desde aquele dia.

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Do Outro Lado| [ reescrevendo ]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora