Capitulo 24

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ANGEL

  Eu estava lendo o meu O Vale das Bonecas quando Ed desceu a escada parecendo uma versão mais nova desajeitada de Dorian Leduc, de jeans e a camisa vintage da banda que ele não ouvia.

— Led Zeppelin, hum? Qual é a sua música preferida?

— Aquela... aquela da escada.

Ri baixinho.

— Claro.

Dorian entrou na sala com o torso nu, os cachos molhados despontados em várias direções. A calça escura caindo, deliciosamente, em seus quadris.

— Alguém viu a minha camisa do Led? ­Ela estava na... Ei! Essa camisa é minha!

— Não vi seu nome escrito nela.

— Ouch!

 Dorian me olhou com horror e eu não pude conter o riso que escapou da minha garganta.

— A gente cria, dá amor e ainda toma na cara.

Gargalhei.

— É apenas uma camisa! ­— Ed protestou. ­— Você tem tantas. Não vai fazer falta.

   — Não é apenas uma camisa. Tem a assinatura do Plant aí!

Arregalei os olhos.

— Tem?

— Não, mas podia ter.

Eu ri.

— Idiota.

— Tira isso, rapazinho. — Ed bufou, puxou o tecido negro pela cabeça e entregou a ele. — Obrigado. O que está fazendo? Tentando um visual novo ou o quê?

— Espera, tem mais!

O garoto desfivelou o cinto e ameaçou tirar a calça.

— Não! ­— Dorian arregalou os olhos,horrorizado. ­

— Eu peguei a samba-canção.

   — Deixa para lá... ­— Ele abanou a mão, atordoado. ­— Pode ficar com ela. Apenas não fique nu, pelos céus!

Ed deu ombro e subiu a escada aos pulos.

— Vai sair?

— Preciso ir a um lugar... — Dorian vestiu a camisa.

Nossos olhos se encontraram. Senti o rosto esquentar, pois a lembrança da noite passada flutuava em minha mente. A forma como ele deixou meus joelhos fracos...

A porta abriu e Robert entrou em casa.

— Ei! — Ele deixou a chave no suporte.

— Ei. — Dorian acenou.

Robert alternou o olhar entre nós.

— Está tudo bem?

— Sim.

— Angel, o que você vai fazer hoje? Pensei que você e eu podíamos sair e...

— Ah, não! Eu não vou. Eu tenho muitas coisas para fazer.

— Não tem, não.

Eu me virei para Dorian, sentindo vontade de estrangular o infeliz.

— Não tenho?

— Angel, o dia está lindo lá fora. Eu não perderia uma oportunidade dessas...

— Então por que não vão os dois, hum?

1994 - A canção Memória oculta LIVRO 1 (Privilegiados)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora