— Possivelmente — dou uma mordida no meu sanduíche.

— Não fala mais com os amigos, Johnny?

— Desculpa, mas não te conheço. — limpo minha boca com o dorso da mão.

— Sou eu, cara — abre os braços, quase caindo do banco. — William Carson, mas você pode me chamar de Billy!

— Billy?

— Estudamos juntos no jardim de infância. Ah, qual é? — Billy murchou seus lábios em um biquinho de falsa tristeza. — Vai dizer que foi só eu, que reconheceu você, tantos anos depois?

Semicerrando meus olhos e forçando minha mente a dar alguma pista daquele estranho garoto, surge imagens do cara à minha frente, em uma versão menor e banguela com uma camisa verde com estampa de caminhão de bombeiro.

— Billy... Billy Carson?!

— É! — foi tudo que disse.

— E por que diabos estava me espionando na sala de aula?

— Ora, eu não queria te assustar, fazendo uma recepção desagradável.

— Falhou miseravelmente, Carson — engulo o restante do açúcar gaseificado da lata.

— Lembrou enfim, garotão. Chega junto, galera — acena e mais pessoas aproximam-se de nós. — Fiz ele se lembrar. O mundialmente famoso John Walker.

Mundialmente famoso? Só se for aqui em Paradise.

Para minha sorte — ou não — os tais amigos que Billy chamava para perto, eram os mesmos que antes me observavam em silêncio na classe. Apertaram minha mão, sorrindo a todo instante como se fôssemos velhos e felizes conhecidos. 

Uma garota com argolas verdes, e cabelo castanho e muito rebelde, abre um sorriso largo demais para mim. 

— Sou Rachel, irmã desse cabeça dura, também conhecido como Billy — pisca um dos olhos maquiados com sombra cor-de-rosa para mim.

Gozado. Não lembro de Billy ter uma irmã mais nova. Minha memória é uma porcaria mesmo.

— E essa aqui é a Karen. — Rachel puxa o braço da amiga. Karen é a garota é uma garota magra, de pele pálida e cabelos muito rebeldes. Usa maquiagem de forma exagerada, extravagante, eu diria.

— E aí? Tudo beleza? — leva a mão em minha direção. — Estudo Química, Geografia e Álgebra contigo — aperto a mão dela. Parece que lambuzou as mãos em uma aquarela. — Acabei de sair da aula de Artes.

— Lembra quando ateamos fogo na lixeira da creche, Johnny? — Billy lança a cabeça para trás em um riso rasgado.

— Vocês fizeram isso? — Rachel enrola uma mecha curta entre os dedos.

— Eu era pequeno — defendo-me. — Como raios vou lembrar disso?!

Creio que quando saímos de um lugar, nossas memórias se dispersam, varridas pelo vento. As lembranças que construir quando pirralho em Paradise parecem ter sumido de minha mente.

— Nós éramos imparáveis! Aí você mudou para outro estado e me deixou na mão — Billy morde o lábio inferior discretamente.

— Não esquenta. Vou congelar aqui em Paradise mesmo.

— Acho que fui o único a não ser apresentado. Sou Peter Grant. John, se você quiser passear pela cidade... — um deles começa a falar, um garoto chamado Peter, um moreno de baixa estatura e de cabelo espetado com muito gel.

— Olha, não me levem a mal, mas o que um bando de caipiras ingênuos tem a me mostrar? — indago, embora sem querer ser malicioso, mas acabo soando atrevido.

Nós, em uma casca de noz!Where stories live. Discover now