Capítulo 4

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Depois de algumas horas andando sem rumo. Mateus pensou para onde poderia ir para passar a noite. Pensou na casa das mulheres. Ele já tinha estado lá algumas vezes. "Ai, que bebê mais fofo. Que gostosinho, dá vontade de apertar as bochechas" - se lembrou de ter ouvido isso da última vez e fez cara de desgosto.

Mas o que as mulheres falariam agora? Ele aparecendo lá só... Talvez até a sua própria vida estaria em risco agora. "Se a minha mãe supostamente chegou de lá morta. Ir para a casa das mulheres seria se entregar" - pensou. Caminhou mais um pouco e parou na frente de um barraco de madeira vermelha. Olhou para cima e viu a placa: Polaca's Bar e se lembrou de seu amigo, o Polaco – um menino bem pretinho de mais idade que havia conhecido na escolinha. Não entendia o motivo de o chamarem assim, talvez fosse o nome mesmo. Deu de ombros, pegou o gato na mão e entrou.

Na balcão do bar uma senhora de uns 60 anos pra mais, parecia ter parado no tempo com um olhar distante e perturbada, nem notou a presença do garoto.

– Oi, tia. Você faz algo para eu comer? Não tenho dinheiro, mas deixo esse carrinho aqui que você pode dar para o seu netinho – tirou da mochila um hot wheels – Tia... tá tudo bem?

A senhora despregou os olhos da televisão e olhou para baixo. "Que criança mais pequena" – pensou.

– O que garoto... O que você está fazendo essas horas na rua?

– Tô com fome, tia? Tem alguma coisa para eu comer? – resmungou Mateus.

– Tá e porque você está me mostrando esse carrinho?

– É para o seu neto, tia. Já falei! Eu sei que ele gosta de carrinhos – disse o garotinho irritado.

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Mateus sempre foi curioso e cuidadoso. Sempre soube o que queria fazer. O que comer... Onde ir... E fazia tudo isso sozinho. Mas olhando ele agora sem eu por pertinho: dói demais meu coração que um dia bateu quente no meu peito. Se eu pudesse dizer alguma coisa. Lhe falar para onde ir e o que fazer. Se eu pudesse apenas o pegar no colo e o colocar para dormir nos meus braços. Mas acho que ele já passou desse tempo. É coisa de mãe querer o filho sempre por perto. Manter entre as asas e aquecer. Eu sei que eles precisam de espaço. Mas é muito melhor dar este tempo quando se está viva.

Há dois dias o meu sangue parou de circular. O cheiro deve estar forte.

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