– Preciso que você fuja. Se esconda o quanto puder e vá embora! – ele agarrou a mão de Célia no ar, prendendo-a, dedos entre dedos.

– Mas, e você? – um estreito armário no fundo se partiu, estilhaçado-se. Célia tremia tanto que mal percebia o que Zayn acabara de fazer.

– Não se preocupe comigo...

– Claro que eu me preocupo, Zayn! – interrompeu. – Acha que eu estaria aqui, nos Estados Unidos, contra meus pais, contra Hillary, se por acaso eu não me preocupasse? – Célia ergueu o rosto, um amargo sorriso curvou-se nos lábios da pobre menina, ternas lembranças volvendo como se viessem de seu estômago, explodindo em seu cérebro como dinamites.

Zayn seguiu seu sorriso; isso era tudo o que ela precisava, um sorriso, por mais triste, amargo e doentio que fosse.

O rapaz sentiu seu tempo esgotar-se, tocou o rosto de Célia com a ponta do dedo, desenhando algo invisível, determinação e medo brilhando em tons de vermelho em seus estreitos olhos castanhos.

– Não vai mais se revelar, Zayn? – a voz de Harry ecoou assim que os barulhos uivantes dos tiros cessaram, retalhado todas as coisas boas que Célia trazia em sua mente, fazendo Zayn largar sua mão e parar de acariciar seu rosto.

– Só me prometa uma coisa – ela engoliu as palavras que havia preparado para dizer, rapidamente, amassando-as mentalmente como se fossem pedaços de papel, reescrevendo outras e pondo-as em seu lugar –, tente não morrer.

Aquele sorriso amargo voltou, o gosto metálico na boca...

Zayn apenas lhe enviou um olhar estranho – Célia não sabia traduzir; não sabia se era medo, se era raiva, se era um sim, um não, nem mesmo sabia se era um simples talvez. Agarrando a arma novamente, Zayn se ergueu.

Célia fechou os olhos, estava tentando não chorar, tentando ser corajosa como aquela Célia que, minutos atrás, matou um homem para proteger-se. Olhou para cima, para aquele objeto metálico e medonho que Zayn segura com tanto jeito. O que mesmo ela temia? Zayn agora a protege de tal forma que... Balançou a cabeça nervosamente, mantendo-se rastejante, cambaleou feito um cão bêbado, indo em direção ao cômodo que se seguia por baixo da grande escada.

O barulho alto atrás de si surtia como um plano de fundo, o som que a motivava a não olhar para trás por medo. Ergueu-se quando notou que havia certa distância, mas seu maior pecado foi olhar por sobre os ombros e sentir vontade de voltar e se agarrar a Zayn até que tudo acabasse, até que alguém a empurrasse fortemente e gritasse alto em seu ouvido: É apenas um sonho, Célia, acorde! Acorde... Célia mordeu o lábio, virando o rosto como se essa simples ação pudesse mudar tudo. Prosseguiu.

A garota atravessou o cômodo mal iluminado, repleto de cadeiras estofadas e pequenas estantes cheias de livros, respirando fundo dentro de todo aquele tecido.

Há uma porta estreita, a porta por onde Crown a acompanhou quando... Tudo aquilo aconteceu. Célia observou as paredes antes de entrar de mãos vazias, mas não havia nada com o que ela pudesse se proteger. Abriu a porta, então, e, receosa, adentrou a sala, encarando a longa mesa de vidro e o grande aquário como se estes fossem pular sobre ela a qualquer hora e obrigá-la a voltar no tempo. Balançou a cabeça para afastar os pensamentos tortuosos.

O estranho silêncio – atordoante – parecia fazer a sensação de claustrofobia prender Célia em uma bolha escura, ela segurou o vestido, apertando o tecido em suas mãos como se assim a bolha simplesmente fosse explodir. Mas não explodia. Não tão fácil.

Andou de vagar, nenhum único ruído a não ser seus próprios pés descalços tocando o chão frio – como poderia tal silêncio? Há uma guerra duas paredes a frente!

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