CAPÍTULO V - O ALGOZ DE GELO

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Tudo estava tranquilo na casa dos Pagóni. Sarah estava dormindo. Augus e Elizabeth estavam juntos na sala. Ele assistia um programa sobre emergências médicas nada casuais – nesse momento, o programa mostrava uma mulher, que sabe-se lá como, havia entrado no serpentário do zoológico, e havia sido picada por uma variedade de serpentes venenosas. Elizabeth, em outro canto, lia um livro, confortavelmente instalada numa poltrona.

Apesar de ser quase uma da manhã, nenhum dos dois parecia com sono. Eles iriam esperar acordados, até que Ally chegasse.

Um lampejo vermelho encheu a sala. Era impossível saber de onde havia vindo. Parecia simplesmente ter surgido ali. Labaredas vermelhas ameaçadoras pairavam no ar. Elas se expandiam, crescendo vertiginosamente e no segundo seguinte, se encolhiam até formar uma pequena esfera vermelha faiscante, voltando a crescer em sequência. Elizabeth olhava para as chamas assustada. Augus apenas sentia a confirmação de um mau-pressentimento que havia sentido mais cedo.

Se aproximou das labaredas inconstantes e dirigiu sua mão direita à mesma. As chamas se tornaram amarelas. Uma voz masculina muito grave preencheu a sala.

Augustus Ian Gláuks Pagóni, representante das honoráveis famílias Gláuks e Pagóni, Princeps Gláuks & Págóni, membro de pleno poder do Conselho, sétimo Arauto. Como responsável pelos atos de seus liderados, está intimado a comparecer ao Supremo Tribunal Bruxo, perante ao Conselho, para responder por ações levianas.

O delito em questão, se refere a quebra do cumprimento da lei alfa, aspecto dois. Tal delito foi realizado às zero horas e cinquenta e três minutos do dia quinze de março do ano dois mil e quinze, praticado pela bruxa, Allyson Tessa Gláuks Pagóni, estando na presença de três ordinários.

Seu julgamento, ocorrerá às seis horas e trinta minutos do presente dia, horário da sede do Supremo Tribunal Bruxo, Moscou.

Tenha um bom dia!

─ Ache ela! Traga-a pra casa ─ a voz de Augus era fria, autoritária. O som de sua pesada respiração, audível ─, e quem mais estiver com ela.

O garoto se pôs a subir as escadas apressadamente, se dirigindo ao seu quarto. Elizabeth tratou de obedecer Augus e a passos rápidos, saiu de casa.

O garoto subiu ao quarto. Sabia como as audições no Supremo Tribunal eram burocráticas e dominadas pelas aparências. Era necessário que ele relembrasse aos outros quem ele era. Seriam as melhores chances para ajudar a irmã. A irmã! Com certeza ele esganaria ela. Mas apenas depois que a salvasse.

Já dentro do quarto, ele foi se despindo. Jogava as peças de vestuário que usava pelo chão. Tinha que chegar, de acordo com os padrões. Buscava sua roupa de líder. Àquela que Ally vivia dizendo que era a roupa do poder. Vestiu a camisa social preta, colocou a gravata branca. Apressadamente vestiu a calça branca, um blazer branco e calçou seus sapatos. Correu ao banheiro, escovou os dentes rapidamente enquanto ajeitava o cabelo, as ombreiras douradas do blazer, a gravata e as medalhas. Todas do lado direito do peito. Exceto por uma, com forma de um floco de neve cristalino, que repousava no lado esquerdo do peito. Conferiu no espelho uma última vez. Suava frio. Estava tudo OK. No segundo seguinte, ele desapareceu num estalo.

*******

Augus reapareceu no corredor de uma construção magnífica.

Tudo era feito em mármore negro. Na pedra havia veios cinzentos que conferiam uma beleza inigualável. O corredor era adornado de pratos de bronze, atidos a um suporte, também de bronze, por três correntes do mesmo metal. Os pratos ardiam em chamas – tudo tão medieval –, enquanto do teto, pendiam enormes lustres de cristal e bronze, que proviam a luz ao local. Os pratos flamejantes pareciam existir apenas para fins decorativos. As pilastras, muito grossas, dispostas nos dois lados do grande corredor proviam a sustentação. Não haviam janelas nem qualquer vestígio de luz exterior. Estava no subsolo, mas já sabia disso. No fim do corredor, uma porta dupla metálica repleta de desenhos serpentescos, dava acesso à sala do julgamento.

Crônicas das Luas Gêmeas - A Tormenta de AugusOnde as histórias ganham vida. Descobre agora