Prólogo

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Era dia das crianças, mas para ela o dia foi dedicado a Nossa Senhora Aparecida. Acordei e esperei algum presente. 

Fui para a cozinha. 

Nada para comer na geladeira.

Minha mãe estava com as outras mulheres.

Peguei um pão na mesa e liguei a televisão na sala. Mimo veio junto se enrolando entre os meus pés. Mimo era fofinho e sabia fazer uma companhia. Na verdade, Mimo era o meu perfeito companheiro. Toda criança precisa de um amigo, principalmente no Dia das Crianças.

Não tinha nada de interessante naquele momento. Os desenhos da manhã já tinham acabado.

Deixei o prato com as migalhas de pão na mesa e fui brincar lá fora, em uma área coberta onde a minha mãe lavava roupa. Havia um quadradinho de cimento de uns 3 por 3. O restante era pura terra que ficava molhada quando minha mãe lavava roupa já que a água do tanque escorria por ali mesmo.

Fiquei no quadradinho brincando com alguns caminhõezinhos e pequenos tratores.

Eu lembrava apenas disso daquele dia das crianças. 

Quando tinha 10 anos.

Depois, o que eu lembro é só escuridão e muito cinza.

Na verdade é isso que eu gostaria de ter como lembrança, mas recordo de mais algumas coisas. Lembro da minha mãe chegando em casa com um buraco aterrorizante aberto no peito, escorrendo sangue. Um sangue roxo. Dois rapazes encapuzados levavam ela no colo. Jogaram-a em meus braços.

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