37. HOLOFOTES (parte VIII)

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Paramos. 

À minha frente estava a tenebrosa sala de boxe com dez pessoas paradas lá dentro, aguardando o início da aula. Duas garotas, ambas fora de forma como eu, tinham expressões de insegurança estampadas na face. 

Pelo menos eu não seria o único peixe fora d'água na aula, pensei.

Sumai se dirigiu até a barra de metal, apoiou a perna direita sobre o metal, esticou-a e inclinou o corpo para frente, dobrando-se feito borracha, até suas mãos ultrapassarem seu estiloso tênis preto.

– Olha, Sue, eu estou há muito tempo sem malhar e não sei se dou conta de fazer uma aula dessas até o fim – era prudente alertá-la sobre o pior.

Podia cair dura no chão e precisar ser rebocada por um guindaste.

Sumai balançou a cabeça, reprovando minha falta de fé em mim mesma. 

Depois que terminou o alongamento, ficou de pé e acenou para Ojore do outro lado do vidro. Eu o vi sumir escada acima. Ela disse que o irmão iria para a sala de musculação. 

Pensei em perguntar por Daniel, mas desisti. Era melhor não demonstrar nenhum tipo de interesse por ele fora do ambiente de trabalho, ainda mais para os sentidos atentos de Sumai.

O professor chegou, identificando-se como Sebastian. Ligou um som de rap com batidas fortes e deu início à aula. 

O aquecimento foi uma corridinha básica de uns dez minutos – todos em fila, fazendo extensos números oitos pela sala. Depois, uma sessão interminável de polichinelos, abdominais, flexões e outros aquecimentos típicos do exército.

Sumai olhava para mim de vez em quando para checar se eu passava mal.

Por fim, pulei corda e Sebastian desperdiçou seu tempo tentando me ensinar a fazer esquiva, dar jabs, diretos e alguns cruzados.

Decorridos sessenta minutos, nem acreditei quando ele deu a aula por encerrada. Minha respiração estava bastante ofegante, minhas coxas trêmulas, mas não necessitei de ambulatório, como temia.

– Você foi muito bem! – disse Ojore, enorme, de pé ao meu lado, observando-me beber água no corredor.

– Pode zombar à vontade. – disse eu, enxugando a boca com o antebraço salgado de suor.

– Eu estou elogiando seu desempenho.

Abri um sorrisinho duvidoso para ele.

– É sério! – disse ele, passando a mão sobre o topete castanho escuro. – Apostei cem pratas com a Sue como você desistiria antes do fim da aula.

– Apostou com ela?! – fiquei surpresa. – V-você sabia que eu viria aqui, hoje?

– Ela disse que iria te buscar – ele deu de ombros. – Minha irmã é bastante persuasiva quando quer.

Olhamos ao mesmo tempo para o lado de dentro da sala, onde Sebastian selecionava a dedo alguns alunos mais experientes para fazer um treino avançado de combate. 

Sumai foi a primeira a colocar as luvas vermelhas. 

Eu e Ojore encostamos no vidro para ver a cena.

– Ela é boa. – comentei, vendo-a esquivar-se numa velocidade incrível dos golpes que Sebastian lhe desferia em sequência.

– Muito – concordou o gigante, orgulhoso da irmã.

Sumai inverteu a luta facilmente e passou a socar o pobre professor sem piedade.

– Não queria estar no lugar dele – falei, com pena de Sebastian.

– Nem eu - disse o irmão da lutadora -  Agora você entende quando digo como ela pode ser persuasiva...

Eu sorri, sem tirar os olhos do combate. 

Fragmentos de uma ConchaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora