As promessas de Victor

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Eduarda

Ele me odiava. Meu pai me odiava.

Como era possível sentir repulsa pelo seu próprio sangue?

Eu estava trancada no meu quarto desde o momento em que meu pai foi embora, depois de gritar ofensas e me acusar de estragar sua vida.

Eu era seu tesouro mais valioso, seu pequeno raio de luz. Como de uma hora para outra, ele tinha me virado as costas?

Só por que tínhamos pensamentos diferentes? Só por que eu não quis assumir o seu lugar na empresa? Ele tinha dois filhos que poderiam fazer isso, não precisava de mim.

Como ousou vir aqui e me acusar, se foi por causa dele que me perdi?

Foi graças a ele que me envolvi com as pessoas erradas. Abandonei meus sonhos por não ter seu apoio. Deixei de viver minha vida por não ter seu amor. Ele só sabia me cobrar e me julgar.

Para ele, minha carreira de pintora não me levaria a nada. Acabaria passando fome e envergonhando seu grande nome.

Acabei me fechando em meu mundo, procurando formas de preencher o lugar vazio deixado por ele. Sempre solitária, sem amigos, já que ele controlava tudo ao meu redor.

Só senti um pouco de liberdade quando entrei na faculdade, e pude finalmente sair de perto dele. Mas sempre que podia, ele jogava na minha cara que eu estava desperdiçando meu tempo e o seu dinheiro com bobagens.

Foi quando conheci outro mundo. Um mundo que eu podia ser quem eu queria. Eu tenho minha parcela de culpa, mas foi ele que me empurrou para longe.

— Eduarda, filha, abra a porta e vamos conversar.

Era a quinta vez que ela batia na porta. Eu apenas ignorava. Não queria ver ninguém.

— Se você não abrir essa porta, vou ligar para o seu irmão.

O que Kadu iria fazer? Derrubar a porta? Gritar comigo?

— Filha...

— Me deixe em paz mãe, por favor.

— Eu sinto muito por tudo o que seu pai lhe disse...

— Ele é um monstro...

— Abra a porta e vamos conversar.

— Não. E por favor, pare de insistir.

Fui até minha penteadeira e fiquei olhando minha imagem no espelho. Meus olhos estavam inchados. Ele não merecia minhas lágrimas, mas mesmo assim, eu ainda chorava.

O computador estava ligado. Eu tinha entrado na internet para ver as notícias locais, saber o que estavam falando e para ter a certeza que meu pai estava inventando tudo. Ele tinha escondido todo o meu passado. Quem havia descoberto e soltado as informações?

E o pior que nisso tudo, estava Victor e Davi. Duas pessoas que não tinha nada a haver, mas que iriam sofrer por minha causa.

Eles não mereciam passar por isso. Eu queria que fosse diferente, não queria estar presa a uma cadeira, dependendo do outros.

Eu tinha que aceitar que eu não merecia ser feliz.

Peguei meu troféu que ganhei como bailarina aos nove anos e joguei contra o espelho. Por pouco não me feri. Vi minha imagem distribuídas em vários pedaços. Era assim que eu estava, em pedaços.

— Eduarda, sou eu, abra a porta.

Ouvi a voz de Victor do outro lado, mas não me mexi, continuei olhando para minha imagem distorcida.

Quando encontrei você - Livro 4Onde as histórias ganham vida. Descobre agora