Prólogo

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"O destino é um parente elegante do acaso" - Sombra do Vento

Tudo era um completo borrão enquanto eu e Astrid, minha melhor amiga, éramos empurradas por seguranças brutamontes para fora do Hexagon, o clube mais famoso de nossa cidadezinha. A morena tinha prendido a barra de seu vestido - um tomara que caia prata de paetês - que agora tinha um rasgo gigante em sua lateral. Eu por outro lado tinha sido encharcada por alguma bebida azul que havia manchado todo o meu vestido branco favorito e, como se tudo isso não bastasse, o clima de nossa pequena cidade, Headlyn, decidiu nos trair e começar um temporal em pleno verão, nos deixando completamente ensopadas no meio da rua com a pior iluminação da cidade, a única coisa que nos fazia enxergar eram dois postes velhos e a fachada cheia de luzes neons do clube em que estávamos. Fora isso a rua parecia um completo deserto, ninguém passava nela e só o que ouvíamos eram os barulhos dos trovões e dos raios que aumentavam a cada minuto.

— Paguei tão caro nesse vestido, era ao menos para ele durar um pouco mais — ela continuava a reclamar.

— Nem todos os vestidos são a prova de brigas em clubes — retruquei.

— Já te disse que aquilo não foi uma briga, foi uma discussão saudável.

— Saudável não é uma boa definição para a briga, considerando que você jogou sua bebida na cara do garoto que você gosta.

— Ele é um babaca, estava ficando com várias garotas ao mesmo tempo e só para constar eu não gosto dele.

— Você gosta dele sim, está estampado na sua cara até parece um outdoor — provoquei ela.

— Não gosto e jamais vou gostar, agora cale a boca e dirija o carro — ela protestou me fuzilando com seus olhos verdes.

— Tudo bem miss simpatia — ela jogou a chave e caminhamos até a nossa SUV branca, a qual tínhamos comprado juntas há exatamente um ano, quando tínhamos dezessete.

Enfim abri a porta do automóvel e peguei uma presilha na minha bolsa, prendi um pedaço do meu cabelo loiro para trás e então entrei no carro, Astrid se jogou no banco do carona e ligou a rádio em seguida enquanto tentava arrumar seus longos cabelos castanhos que combinavam perfeitamente com sua pele morena digna de uma latina, ela era linda.

— Não esqueça do cinto, e ligue o ar condicionado, por favor — ela ligou o ar, enquanto eu passava a mão pelo para brisa embaçado.

— Quando nós decidimos morar juntas eu pensei que me livraria da minha mãe louca, não que arranjaria uma nova.

Imediatamente ela começou a reclamar como sempre fazia, e eu como sempre a ignorei prestando atenção na estrada, estava escorregadia e cheia de neblina, era definitivamente uma noite estranha em Readlyn.

— Você não está nem prestando atenção, não é mesmo? — Astrid chamou a atenção para ela de novo.

— Suas reclamações não são minha prioridade no momento — me aproximei do para brisa embaçado e esfreguei minha mão nele, no exato momento percebi algo no meio da estrada, uma pessoa.

— Cuidado! — Astrid puxou o volante no exato momento em que afundei meu pé no freio.

O carro então começou a girar, assim como minha cabeça, eu não conseguia pensar em nada, só via um amontoado de borrões e ouvia os gritos de Astrid até que tudo ficou completamente escuro.

...

Abri meus olhos lentamente e comecei a olhar ao redor, tudo estava em pedaços, olhei para meu lado esperando ver Astrid, mas ela não estava lá, em seguida meus olhos se voltaram ao para brisa estilhaçado, comecei a me apressar e tirar o cinto quando percebi o pedaço de vidro em minha coxa, não tinha tempo de pensar então o arranquei, tirei o cinto e comecei a empurrar o que havia restado da porta que logo se abriu.

— Astrid! — gritei.

Ela não respondia, mas então percebi algo mais à frente, um corpo. Forcei minha perna dolorida a caminhar até alcança-la, me joguei no chão ao seu lado e percebi seu peito cheio de sangue, parecia ter sido dilacerada, ela não respirava, não mexia um músculo sequer.

— Por que você não colocou a droga do cinto? — um nó se formou em minha garganta e as lágrimas começaram a descer de meus olhos, ela não podia estar morta, tentei chacoalha-la, berrar com ela, mas nada adiantava.

Logo meu corpo começou a fraquejar, não demorou muito até ele ceder e se chocar contra o chão me fazendo mergulhar em uma intensa escuridão.

Do Fogo às CinzasWhere stories live. Discover now