Em um Beco Qualquer

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          O caos pode criar tanto a destruição quanto a salvação. Eu estava tentando pensar em uma forma ordenada novamente. Não preciso ser influente para que o destino me valorize. Sou tão inútil quanto uma borboleta aleatória e, mesmo assim, eu causava uma tempestade. Hauser também sabia disso. Ele não acreditava no que ele mesmo estava falando. Por que ele está mentindo para Julia, então? Não existe motivo para eu ser ou não influente, certo? Foi só azar, o mais puro e simples azar. O que ele estava forçando em Julia era outra coisa: Ele não queria saber a influência que tenho sobre o mundo, mas sim a influência que tenho sobre ela. A influência que Isamu Fatou tem sobre Julia Brontë.

          Quando uma garota que eu nunca conheci na vida foi tão tremendamente influenciada por mim a ponto de desistir de tudo para salvar minha vida, percebi que eu não era um ser humano isolado. Eu tinha influência sobre algo neste mundo. Tamanha influência que fez alguém se preocupar com a possibilidade da minha morte.

          Exatamente como Hauser falou. Ele percebeu... Percebeu a semelhança que ele e Julia dividiam. Cada um queria defender alguém importante, alguém influente, em suas vidas. A dúvida que estava em Hauser era algo que ele precisava que fosse respondido para não sentir a hipocrisia fluindo em seu sangue. Mesmo pondo sua sobrinha como prioridade, ele ainda sofria com o medo de ser hipócrita.

          — Reencarnação, alma gêmea, linha vermelha do destino, vidas passadas, amigos de infância, amor à primeira vista, não me importo quão maluca pode ser sua explicação, eu só quero saber o porquê! Por que você se importa tanto com ele? — Hauser gritou exigindo uma reposta.

          Julia tirou toda e qualquer expressão de raiva. Hauser olhou para ela curioso, ele desejava compreender ao menos isso antes de continuar sua chacina. Ele era o tipo de pessoa que só mataria depois de conhecer sua vítima, depois de entender suas mágoas e suas felicidades. Por alguns segundos, o rosto dela não demonstrava nada, então, de repente, ela abriu um sorriso, um sorriso tão nostálgico que fez meu coração se apertar. O mesmo sorriso que ela dava antes de tudo acontecer, quando ela ainda era a intercambista alegre e estranha. O mesmo sorriso de quando ela ainda usava uma máscara de felicidade, mas, dessa vez, completamente genuíno. Não... Era um sorriso ainda mais antigo, como se eu já tivesse visto esse mesmo sorriso alguma vez... Alguma vez...

          Era como se eu já tivesse visto o mesmo sorriso em um sonho. Um sonho tão nostálgico que parecia querer tirar lágrimas dos meus olhos.

          Com o mesmo sorriso, Julia abriu os olhos e simplesmente falou:

          — Não sei. Eu realmente não tenho ideia.

          Hauser parecia incrédulo. Ele não conseguia achar qualquer forma de responder à altura. Não havia mais nada que ele podia dizer. Sua mão apertou o cabo da faca com uma força tremenda, de forma que seu punho veio a tremer. Julia também percebeu o que aconteceria naquele momento.

          Os dois não tinham mais qualquer sorriso em seus rostos. Naquele momento, eles começariam uma guerra.

          Surpreendentemente, a primeira a investir para a terrível luta foi Julia.

          Ela correu na direção de Hauser com o cano a sua frente. Logo na sua primeira tentativa de um golpe, ela mirou na cabeça de Hauser.

          Nos primeiros segundos de luta, já se pôde perceber a enorme diferença entre os dois. Hauser desviou do cano facilmente e aplicou um contra-ataque com sua faca na direção da barriga de Julia.

          Você não acha que já foi o bastante?

          Uma voz começou a ecoar em meus ouvidos, uma voz realmente familiar.

A Borboleta na TormentaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora