19: sombra

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 - Um gato!

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- Um gato!

    Aninhada nos braços torneados do Professor estava uma pequena bola de pelos acinzentados, não muito maior do que a palma de sua mão. Era tão pequeno, frágil e delicado, com o focinho cor-de-rosa e as patinhas da mesma cor, que Alana achou que ia ter problemas cardíacos com a onda de fofura que dominou seu coração no segundo em que pôs os olhos naquela coisinha.

    Muito provavelmente a única coisa no mundo que Alana apreciava mais do que o Professor Tomás era um filhote de gato.

    - Você adotou um gato! - repetiu ela, com a voz trêmula. Seus pais nunca permitiram que ela tivesse animais de estimação, mas Alana era simplesmente obcecada por gatos. Ela os considerava criaturas elegantes e misteriosas, capazes de demonstrar a afeição da forma mais adequada possível: brevemente, e vez ou outra. Mais de uma vez pensara que se pessoas fossem como gatos, ela provavelmente não seria tão avessa a socializar-se.

    - Na verdade, esse é para você. - disse ele simplesmente, estendendo o gatinho para Alana, que recebeu-o completamente hipnotizada.

    - Ele é tão... cinzento. - foi só o que conseguiu dizer após uns bons minutos de contemplação. O gato tinha os pelos longos e uma expressão irritada nos olhos. Alana pôde perceber que ele gostava de ser apreciado – embora não o demonstrasse –, pois se empinava todo quando ela usava palavras como "adorável". Agora que parara para pensar a respeito, se adicionassem a ele um boletim impecável e uma medalha de ginástica, aquele gato seria uma extensão da personalidade de Brenda. Ela sorriu para ele.

    - É da mesma cor que os seus olhos. - soltou Tomás, removendo o sorriso do rosto de Alana numa fração de segundos. Ela franziu as sobrancelhas quando olhou para ele, mas não estava verdadeiramente irritada.

    - Isso é um péssimo clichê. - acusou em tom de deboche – Você é professor de literatura, tenho certeza de que tem uns clichês melhores no seu acervo.

    - Bom, ele me fez lembrar de você.

    O sorriso retornou aos seus lábios. Era impossível repudiar clichês com um gatinho persa no colo, e com os olhos de Tomás na reta; além de quê, Tomás tinha quase trinta anos e devia ser assim que se flertava na Idade Média, quando ele era adolescente. Ela olhou de volta para o gato em seu colo, que agora esfregava graciosamente a pata esquerda nas laterais do rosto. Era perfeito.

    Só tinha um pequeno problema.

    - Tomás, eu não posso ter um gato. Meus pais me matariam.

    - Eu sei o quanto você gosta de gatos. - argumentou o Professor, muito irritantemente, se você quer saber – Tenho certeza de que seus pais não veriam problema em deixar você ficar com este.

    - Ah, claro, eu passei quinze anos implorando para ter um desses e eles nunca permitiram. O que te faz pensar que eles mudariam de ideia agora? - ela não pretendia ser grosseira, mas a perspectiva de se afastar daquela criaturinha por um segundo que fosse afetara seu humor terrivelmente.

Não Confie Nas Boas MeninasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora