– BOM DIA FAMÍLIA! Argh... – ele torce o nariz. – Vocês não cansam de se ver e ficar abraçados não?

– Na verdade nos cansamos de ver você todas as manhãs – Alex diz e sorri, separando-se de mim e indo checar os pães na torradeira. Aproveito para ir pegar meu café fresquinho. – Mas já que você vem no pacote...

– Ah, sim! Pacotão, hein, Ni? – Marcelo sorri e serve-se de café também.

– Pacotão – respondo e me ponho nas pontas dos pés para beijá-lo na bochecha.

– Escuta, não tem nada pra comer na sua casa não? – Alex pergunta e eu dou risada.

– Até tem, mas gosto do teu café, Alex – Marcelo responde cinicamente e se senta na banqueta.

– Ah, eu também. E ele não fica lindo quando cozinha? – digo e Alex revira os olhos, colocando os pães no prato a minha frente.

– Um gato!

– Ah, Celo, falando em gato... Quando posso te levar ao shopping pra escolher teu terno?

– Já marcaram as datas?

– Que datas? – Alex pergunta.

– Das despedidas de solteiro. A do Alex será num strip club e a da Ni num barzinho de senhora qualquer, com bingo e bilhar.

Tenho que afastar a caneca da boca para não engasgar.

– Como é, Marcelo? Bingo?! Há-há, você só pode estar brincando...

– Então a senhorita quer que seja num strip club? – Alex pergunta e ergue as sobrancelhas, mas vejo que tem um sorriso nos lábios.

– Não, mas é que...

– Oh, oh... – Marcelo diz e pula da banqueta, se preparando para sair da cozinha. – DR de casal. Tô fora. Me avisem quando terminarem e aí a gente combina.

– Marcelo! Volta aqui! Argh... Você é um péssimo padrinho!

(...)

O espaçoso provador era coberto por espelhos, de modo que consegui visualizar o vestido de todos os ângulos em meu corpo. Eu estava sozinha, mas conseguia ouvir o tagarelar de Sofia com as vendedoras do lado de fora. Havíamos provado diversos modelos o dia todo e em várias lojas, mas até então eu não tinha me interessado verdadeiramente por nenhum. Não até agora.

Sofia, por outro lado, se apaixonava por todos e dizia "é esse!" sempre que terminava de vesti-lo. Eu revirava os olhos e contava até cinco, que era o tempo que ela precisava para dizer "tá, vamos pra outra loja". De qualquer forma, ao menos o vestido de madrinha ela tinha conseguido comprar sem indecisões. E ele era maravilhoso e combinava perfeitamente com ela!

Dou uma leve inclinada para o lado, a fim de enxergar melhor os detalhes da parte de trás do meu vestido. Satisfeita, volto à posição anterior e respiro fundo, apaixonada pelo meu próprio reflexo. Parecia que alguém havia desenhado aquele modelo especialmente pra mim. Eu até conseguia me ver entrando na igreja com mais facilidade do que antes.

Não sei quanto tempo se passou, mas de repente as meninas ficam em silêncio do lado de fora e, segundos depois, alguém bate à porta.

– Ni? – abro a boca para responder, mas ela já está batendo de novo. – Morreu do coração aí? Pelo amor de Deus, pare de suspense... Esse não pode ser tão diferente dos outros, pode?

– Ah, sim, pode! É esse!

– O quê? Tá falando sério? – ela pergunta, e tenho certeza de que está com a cara enfiada na porta, tentando enxergar por alguma frestinha.

Anjo (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora