— Eu estou muito bem, obrigada por perguntar — digo ironizando, e ela sorri me dando um tapa no braço. — Sinto em te decepcionar querida, mas ainda não deu em nada — digo começando a catar alguns lápis espalhados na mesa, para colocar dentro do pote.

— Ah, droga! Odeio quando fazem esse suspense — a ouço reclamar em voz baixa, e eu apenas sorrio comigo mesma, pois se ela não estivesse reclamando, certamente não seria a Camila.

— Mas me diz, como você está indo? — ela pergunta se sentando em uma das cadeiras espalhadas pela sala, mas eu decido não responder e continuar tentando organizar a mesa. — Ari, fala comigo... vem cá — ela pega no meu braço me obrigando a sentar na cadeira, a sua frente. — Não se feche — ela insiste, demonstrando preocupação.

— Não estou me fechando, Camz, eu só não quero falar sobre isso. É o meu jeito de superar — fingo um pequeno sorriso no final, para tentar passar tranquilidade.

— Isso se chama negação — ela diz um pouco dura, mas logo suaviza o olhar com um sorriso.

— Não, não é! — revido. — Estou fazendo terapia há dois meses, duas vezes por semana, sem nenhuma falta. Falar sobre os meus sentimentos é o que eu mais faço, então não vem com essa.

— Sabe que se eu pudesse, teria ficado aqui com você — ela põe sua mão por cima da minha, e então me abraça novamente. — Te amo, baby! — ela cantarola.

— Também te amo!

A solto e levanto os olhos para não chorar. Ela me olha sorrindo, e eu solto uma risada quase deixando a lágrima cair.

— Mas agora eu preciso ir! — digo a primeira coisa que me vem a cabeça para mudar o assunto. — Você vem? — pergunto pegando minha mochila em cima da mesa.

— Não, preciso pegar alguns papéis com a Srta. Downey sobre a minha adoção.

— Por que precisa dos papéis da sua adoção, que já foi feita há mais de dez anos? — pergunto curiosa, e ela me olha sem respostas.

— A escola está pedindo — ela diz um pouco vacilante, e eu decido ignorar o meu pressentimento de que ela está mentindo para mim.

— Mais tarde vou à sua casa — deixo um beijo em sua bochecha, colocando a mochila nas costas.

Saio de dentro do orfanato arrumando algumas coisas dentro da mochila, apenas para me certificar que está tudo aqui. Da última vez, eu esqueci o meu livro de biologia e acabei não estudando, o que resultou em uma nota horrível.

Olho para frente, seguindo meu caminho diário e olhando ao meu redor despreocupada, até capturo na minha visão o menino de pele clara, vestido como sempre de calça, blusa e tênis me olhando do outro lado da rua com aqueles olhos castanhos. Meu corpo todo estremece. Ele está me olhando fixamente e isso me incomoda tremendamente. Picos de memórias da última vez que o vi começam a voltar e eu me sinto desesperada, minhas mãos soam e minha cabeça lateja.

Dou um passo para trás e volto a seguir o meu caminho ao contrário, apertando os passos assim que eu ouço a sua voz me chamar, e o som que os seus sapatos fazem ao bater no chão na rua completamente vazia faz meu coração apertar. Eu poderia gritar e pedir ajudar, mas não há ninguém na rua, e além do mais, apesar de tudo, eu tenho pena do Mike, não quero fazer isso com ele.

— Ariana... — a sua voz se torna presente, junto com o seu corpo que entra na minha frente. Eu tento desviar dele, mas ele novamente entra na minha frente me impedindo, e para evitar contato eu paro, mantendo uma distância segura dele.

— O que você quer? — eu pergunto olhando para os meus pés, ficando cada vez mais nervosa.

— Você pode olhar para mim, por favor? — sua voz pede com calma, e eu ergo meus olhos, mas tento ao máximo não olhar para ele diretamente. — Me desculpe — ele dispara suspirando.

Calm Daddy || Wicked GamesOnde histórias criam vida. Descubra agora