Capítulo 7 | Inércia

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Peguei o celular no bolso e sentei-me no meio fio esperando minha mãe vir me pegar.

"Eu e você sabemos a verdade sobre aquela noite, não tente esconder. "

Meu sangue gelou. Que droga era aquela?

Peguei o número e liguei. Ouvi uma voz robótica me avisando que aquele número não existia, liguei umas cinco vezes só para ouvir a mesma mensagem.

Li e reli a mensagem tentando entender, mas para mim não fazia sentido algum. O som de uma buzina me fez voltar a realidade. O carro de minha mãe estava parado bem a minha frente. Levantei-me e abri a porta do passageiro entrando.

— Oi querida. Como foi? – Ela parecia mais calma que ontem à noite. Sua expressão de pânico ao acordar e me ver ao seu lado não existia mais. Isso me confortou, nunca tinha visto minha mãe daquela forma e aquilo mexeu comigo.

— Ela vai te ligar. Preciso me consultar com um psiquiatra. – Despejei sentindo-me um pouco mais aliviada, era bom dividir essa carga com alguém.

Notei que ela apertou as mãos no volante e perguntei-me o quanto minha mãe ainda era abalada emocionalmente com meu problema psicológico.

— Tudo vai acabar bem, filha, não se preocupe. – Suas palavras tão iguais a da psicóloga fizeram meu estômago dar um nó. Se diziam isso era porque as coisas não seriam fáceis. Mas o que importa era que no fim tudo acabaria bem, certo?

Talvez não.

***

Durante o jantar minha mãe estava apreensiva, parecia querer me contar algo, mas demonstrava receio. Percebi isso porque toda vez que ela achava que eu não estava olhando, sentia seus olhos sobre mim.

— Ok, mãe. Fala logo. – Disse a assustando. Sua expressão de surpresa me fez ter mais certeza que ela estava me escondendo algo.

— O quê? Do que está falando Amber? Não estou escondendo nada. – Voltou a mexer em seu macarrão parafuso, espalhando ainda mais o molho branco ao redor da massa.

Apertei com força o garfo.

— Se não está escondendo nada, porque fica toda hora me olhando? Como se quisesse dizer algo, só não sabe como. – Exclamei colocando uma boa garfada de macarrão na boca.

O dia havia sido estressante. Primeiro, eu não tinha sido aceita na faculdade que me candidatei e agora não sabia mais que rumo tomar, tinha todo um plano na cabeça e do nada a vida me atropela com um trator. Em seguida, a psicóloga havia me dito que iria precisar passar por um psiquiatra, ou seja, minha mente estava trincando de novo e agora quando achei que mais nada podia acontecer minha mãe parecia saber de algo que não sabia como me contar. E se ela estava toda cheia de dedos é porque deve ser alguma coisa bem delicada.

Ela respirou fundo deixando os talheres no prato e o empurrando de leve para frente. Havia terminado de comer, mas a comida praticamente intacta. Na mesma hora pressenti que também não iria terminar meu jantar.

— Hoje a polícia deu mais alguns passos na investigação da morte de Anika. – E foi como receber uma bomba na cabeça e ver todos os meus miolos rolarem pela mesa em meio a comida.

— O que descobriram? – Perguntei sentindo a garganta fechar.

Ela adquiriu sua postura de advogada e entoo em voz firme:

— A polícia já descobriu esses fatos faz um tempo, mas só agora eles tornaram público. – E lá estava ela, dando voltas sem fim. – Encontraram conversas de Anika em seu celular.

SEGREDOS SUBMERSOS - REVISANDOWhere stories live. Discover now