Prólogo

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"Because I'm your jazz singer and you're my cult leader. I love you forever. I love you forever."


   Entre musa de Apolo e bacante vulgar, classifico-me deliberadamente como divindade sem êxito.

   Gosto de crer que o que mais fiz em minha vida foi fornecer esse sentimento hediondo. Amei inúmeras pessoas, incontáveis coisas, de maneiras indefiníveis... Entretanto, o que me tornou esta existência lasciva foram as perdas. Estas eram numeráveis, mas refleti-las era pior que a própria morte.

   Compartilhei meu corpo e minha mente visando a ventura que os filósofos insistem em chamar de felicidade. Mas os filósofos são teóricos, e, portanto, deste mundo nada conhecem. Porém o que eu sei é que tudo se findou, ainda que de formas diferentes. Tudo se findou.

   Perdi-o para o passado em nome do futuro de outrem.

   Perdi-o para seus próprios vícios e em benefício de minhas vontades prepotentes.

   E mesmo compartilhando também a minha vida, perdi-o em nome de seus ensejos de mundo.

   Mas minha pior perda foi vê-lo deixar-me gradativamente, abandonando-me ao apuro de minha própria tutela.

   Insisto no pensamento de que fiz tudo o que podia fazer, e que por isso, neste momento, não há peças que eu possa mover para fazê-lo. Ainda que eu não tenha conseguido salvá-los de si mesmos ou de mim, persisto em convencer-me de que dei meu melhor, pois é isto que me mantém em distância segura da completa insanidade.

   Enfim, alcancei a ordinária sentença de que vivemos em um mundo de tal crueldade que corrompe as almas puras e maviosas, fazendo-as perder a ventura que voltam a buscar pelo resto de sua existência.




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