Capítulo 15: A Morte me encontra em um túnel alagado

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— Senhor pretor — Ícaro ousou falar, levantando-se do chão — Halley está bem?

O pretor parou, ainda de costas para Ícaro, e disse:

— Eu sou o anjo da cura, Ícaro, não o anjo da vida ou da morte. Nem mesmo os meus poderes de cura podem resgatar alguém que já morreu.

Naquele momento, todos pararam de recitar a oração ao arcanjo e permaneceram em silêncio.

— Mas senhor — disse Ícaro para Raphael, correndo em direção ao arcanjo — nós precisamos fazer alguma coisa, não podemos deixá-la morrer!

Raphael ainda assim não virou-se na direção de Ícaro e permaneceu com as costas voltadas para o arcanjo mortal.

Mors omni aetate communis est — disse Raphael para Ícaro — sed  nihil est quod Deus efficere non possit.

Era latim e Ícaro sabia o que o pretor estava querendo dizer. Ele dissera: "A morte é comum aos homens de todas as idades, mas para Deus nada é impossível".

*  *  *

       Halley andava por um túnel escuro sem enxergar nada, pois não havia nem um feixe de luz sequer para guiá-la naquela escuridão. Ela caminhava, mas, por algum motivo, sentia que havia água sob os seus pés, pois sentia-os molhados a cada passo e um som aquoso ecoava no túnel. Halley sabia que se tratava de um túnel cheio de água até os seus tornozelos, porém, algo se movimentava ao lado dela e Halley podia perceber pelo barulho que fazia na água quando esse "algo" se movia. Era algo frio, de presença densa e energia forte e pesada; Halley não sabia o que era, mas sentia seu peito ser tomado por um temor gigantesco. Uma voz grave, então, disse para Halley, ecoando por todo o túnel:

— Por que estás com medo, mixticius? Não sabes quem sou eu?

— Quem é você? E onde estou? — Halley perguntou, sem entender onde estava e com quem estava conversando.

Aquela figura, então, ergueu a mão direita e, erguendo o indicador, fez com que uma pequena chama de cor azul envolvesse seu dedo e iluminasse aquele túnel escuro. Era incrível como aquela pequena chama de luz era capaz de iluminar toda aquela escuridão; Halley agora podia ver melhor quem era aquela pessoa que estava falando com ela e seria até melhor se ela não tivesse visto, pois um grande pavor tomou conta de seu ser. Aquela pessoa era, na verdade, um anjo. Ele era alto e de presença imponente; o anjo possuía tantas asas que era impossível de contar e, aos olhos de Halley, todas eram negras como a noite e com pequenos pontinhos brilhantes, o que a lembrava uma escura noite estrelada, semelhante à pintura de Van Gogh. 

      Halley, assustada, caiu ao chão. Ela se arrastava para trás em ao chão do túnel a fim de distanciar-se ao máximo do anjo, mas a água dificultava que ela se movesse com mais rapidez. A medida que ela se afastava do anjo, ela o via cada vez melhor; ela não havia percebido antes, mas aquele anjo segurava na mão direita uma enorme foice com sete lâminas e, na mão esquerda, uma enorme espada com duas frases gravadas em latim em cada lado: "Dum spiro spero"  e "Hoc non pereo habebo fortior me" . O anjo estava vestido com uma capa e um capuz preto e montado em um cavalo amarelo-esverdeado, cor semelhante à pele de um morto em decomposição. 

     O anjo deu um passo para frente na direção de Halley e, na medida que ela se afastava ainda mais dele, ele dizia:

— Calma, mixticius. — A voz do anjo era grave e forte, ecoando por todo o túnel e fazendo o peito de Halley vibrar — Eu me chamo Azrael, estou aqui para guiar você.

— O que eu estou fazendo aqui? — Halley perguntava em desespero — e quem é você, Azrael?

— Sou o ceifeiro — o anjo Azrael respondeu, erguendo a foice e a espada — pensei que me reconhecerias fácil. Geralmente todos entendem pela foice ou pela capa preta com o capuz.

A Última Nefilim - Livro I (EM REVISÃO)Where stories live. Discover now