Chapter. 4

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Passei a semana inteira trancada naquela cela. Não comi nada, e mal bebi. Eles me trazem comida mas eu não encostei em nada. Acabei conhecendo a Lori, mãe do garoto de chapéu. Ela já tentou me falar o nome dele mas não quis ouvir.

— Anda, Moon. Você precisa comer.

— Lori, entenda, eu já vou morrer, não quero gastar sua comida.

— Já chega. Não vou deixar você falar assim. Você quer morrer sem nem mesmo lutar? - nego com a cabeça e encaro minhas mãos que estavam mais pálidas do que nunca.

— Sinto que já está chegando minha hora e, pra falar a verdade não quero evitar. Mas queria ver a luz do sol pela última vez. Será que você poderia me levar naquele jardim onde eu quase matei seu filho?

— Não fala assim. Eu sei que você se arrepende por tal coisa.- eu concordo com a cabeça. Infelizmente é verdade. Depois que Luke me contou a verdade, eu me culpei e muito por quase mata-lo. Ele foi atencioso ao mesmo tempo que frio, quando ficava me observando do lado de fora da cela. Mas não sei o que aconteceu do lado de fora depois que Luke me contou a verdade. Eu ouvi barulho de tiros, gritaria, pensei que pudessem ser zumbis. Mas a verdade é que nem Luke, nem o mini-Rick apareceram aqui de novo.

— O... Seu filho. Ele tá bem? - ela abriu a cela, e com dificuldade eu consegui sair. Assim que chegamos a porta, a claridade ardeu nos meus olhos. Tampei eles com a mão por breves segundos na intenção de que me acostumasse.

— Descubra você mesma, querida.- Tirei a mão e olhei para ela. Ela sorriu e voltou para onde estávamos. Suspirei e olhei para a frente, onde o garoto de chapéu estava, sentado na grama olhando para o nada. Por mais que seja difícil, tenho que me desculpar. O que fiz foi errado - e muito - mas ele precisa entender que troquei os pés pelas mãos. Caminho devagar até ele e me sento ao seu lado, olhando bem para seu rosto. Ele continua encarando o nada, como se estivesse longe.

— Olha, eu...

— Não, não precisamos dessa conversa. Por mais que eu queira saber por que você tentou me matar, não quero falar com você. E ficaria feliz se o seu julgamento fosse agora.

— Julgamento?

— Eles vão decidir se você fica ou vai embora.

— Olha garoto do chapéu, eu sei que fiz errado em te atacar assim de uma hora para a outra, mas você tem que tentar me entender. Meu irmão me disse que você tinha matado meu namorado. Em momentos como esses, você acaba não pensando em nada, só deixa a raiva te consumir. Perdi praticamente tudo. Meu irmão ainda é a única pessoa que eu conheço e confio. Olha o mundo em que vivemos! Não te culpo se me odiar e não me desculpar. Eu faria o mesmo.- Me levanto e limpo a roupa, e saio andando para a horta, onde avisto Rick.

— Olá, Anna. Vejo que hoje não tentou matar o...

— Não diga o nome dele por favor - o interrompo - Não é uma informação que eu precise para me manter viva, certo? - ele afirma, dando de ombros - Rick, será que eu podia ajudar a consertar o estrago que fiz?

— Trabalho braçal? Na horta? Você não sabe como é preciso ter força, e... - começou a falar umas baboseiras sobre horta que eu não liguei. Ele quer brincar de fazendinha, ou o quê?!

— Eu sei me virar.

— Tudo bem. Mas agora você precisa ir a um lugar comigo.

— E a horta?

— Depois vemos isso.- Ele levantou e começou a caminhar. Fui atrás dele e entramos de novo na prisão. Fomos para uma sala onde estavam o cara da besta, a mulher negra, e uma senhora não muito velha de cabelos curtos e brancos. Rick se sentou e eu me sentei à frente de todos.

— Anna, esses são Daryl, - o homem da besta - Michonne, - a negra bonita - e Carol. - a de cabelos brancos. Carol sorriu para mim, Daryl e Michonne apenas assentiram.

— Olá - sorri meio incerta.

— Bom, precisamos decidir se você fica ou vai embora. Para isso, vamos te fazer três simples perguntas.

— Faça, então. - suspirei e Daryl deu um riso baixo.

— Quantos Walkers já matou? - Pensei, e cheguei a conclusão.

— O suficiente para deixar quem estivesse por perto, vivo.- Ele me olhou perplexo.- Muitos.

— Quantas pessoas já matou?- suspirei. Um nó se instalou na minha garganta.

— Quatro pessoas.- suspirei.

— Por quê? - O nó aumentou.

— Três delas viraram zumbis e uma delas... - suspirei e ele assentiu como se fosse pra mim continuar - Uma delas... - uma lágrima caiu, eu sequei rapidamente - Me deixou em uma espécie de coma por um tempinho.

— Quer falar sobre isso? - Carol perguntou se apoiando na mesa.

— Querer, eu não quero. Mas acho que se estão pensando em me deixar ficar precisam saber de pelo menos um pouco.- todos assentiram - Quando tudo isso começou, meu irmão ainda trabalhava no exército e eu estava em casa com uns amigos. Minha cidade foi uma das últimas a ser atacada por eles, mas uma das mais impactadas. No caminho salvamos diversas pessoas e ficamos com um grupo de 20 á 25 pessoas. A maioria delas morreram com mordidas, uma parte foi embora. Sobraram apenas eu, meu irmão, meu... Namorado e a Lu. Andamos por meses a procura de outro grupo ou um local seguro. E descobri que nunca estamos seguros. Antes mesmo disso tudo começar. Foi quando fomos atacados por uns caras que tinham uma marca na testa. Um "W". Eles não conseguiram nos matar mas, injetaram uma espécie de anestesia que me deixou dormindo "acordada" durante uns dias. Depois quando "acordei" chegamos nessa floresta, onde achei vocês.

— Explica isso de dormir acordada - Daryl disse, seco como sempre. Gostei dele.

— Eu não conseguia interagir, nem conseguia andar. Mas conseguia ouvir tudo que acontecia ao meu redor. Era como se meu corpo não obedecesse ao que meu cérebro mandava.

— Tudo bem, vá dar um passeio que vamos conversar, e depois te aviso.

— Ok.- suspirei e saí da sala.

Vi o garoto do chapéu conversando com a Lori. Eles sorriam muito.

Sorri vendo a cena, e senti saudade das minhas férias com minha mãe, o que raramente acontecia.

Fui para o outro lado procurando por meu irmão. Cheguei numa espécie de cemitério, onde tinham as placas com os nomes. Fui andando e vendo os nomes e cheguei no último "túmulo" que parecia ter sido cavado a pouco tempo. Quando olhei para a placa com o nome quase tive um infarto.

— Charles... Quase esqueci - Vi seu nome escrito. Tinham flores em volta da placa.

— Eu sinto muito, Moon. - Lu apareceu ao meu lado - Se pudesse teria protegido ele.- eu concordei e ela saiu após algum tempo acariciando minhas costas. Sentei em cima da terra, sem ligar se ia sujar a única roupa que ainda tinha. Lágrimas começaram a cair desesperadamente pelo meu rosto.

De repente uma criança apareceu correndo em minha direção.

— TYLER? AI MEU DEUS!- abri os braços, e ele começou a rir enquanto corria. Ele me abraçou e chorei ainda mais. Como ele estava vivo?

— Anna? - olhei para cima, ainda abraçando Tyler. Aqueles olhos azuis... Também tenho os olhos azuis mas não faz tanta diferença para mim, já que não conseguia vê-los.

— S-sim? - não sabia se sorria ou se chorava. Acabei de perder meu namorado, mas achei meu priminho mais novo.

Ele não disse nada. Só olhou para o nome do túmulo. Eu chorei mais ainda, quando Tyler saiu correndo para o colo de uma mulher com cabelos curtos e castanhos. Senti braços a minha volta, e quando olhei, era ele.

O garoto do chapéu de xerife.



[revisado]

Me & You ☠ Carl Grimes ☠ [REFORMA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora