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16 de março 

            A nossa passada lenta adequava-se ao silêncio que nos rodeava e à calma que nos consumia. Apesar do vento constante, havia sol para aquecer as nossas almas perdidas, impedindo a escuridão de entrar nos nossos corações. As ruas encontravam-se desertas e poucos carros circulavam a esta hora, permitindo-nos deambular livremente pela estrada, sem corrermos o risco de a qualquer momento sermos atropelados. Era estranho caminhar ao lado de Luke quando, na verdade, fora ele quem quisera estar comigo. A forma como os meus braços tremiam sinalizava nervosismo e, pela primeira vez, senti-me mais vulnerável que o rapaz de olhos azuis.

            – Do que é que tu não gostas? – a pergunta escapou-lhe dos lábios, depois de longos minutos em silêncio. Com um suspiro trémulo, levantei a cabeça e fitei o rapaz, tentando formular uma reposta à sua curiosidade.

            – Não gosto de palhaços. – sorri timidamente, apertando o braço direito com a minha mão. Luke riu-se. – Não gosto de folhas em branco, não gosto de músicas muito rápidas e não gosto de alturas muito altas. – concluí, olhando-o de esguelha. – E tu Luke? Do que gostas?

            – Do que gosto? – ele repetiu num murmúrio, como se estivesse já a pensar num sem número de coisas que o agradassem. – Gosto de nuvens. Gosto de desenhar. Gosto de chocolate, gosto de algodão. Gosto de ti.

            Os meus pés pararam de se mexer quando aquelas três simples palavrinhas lhe escaparam dos lábios rosados, como um pequeno segredo que o rapaz quisesse manter só para si e para a atmosfera que nos envolvia. O meu coração acelerou drasticamente nesse exato momento e, sem conseguir disfarçar o quanto gostara de ouvir aquilo, sorri sem pudor. Luke também sorriu, parecendo genuinamente feliz por estar a agir de uma forma tão descontraída em meu redor.

            – Eu também gosto muito de ti, Luke. – murmurei no mesmo tom, começando a sentir as minhas bochechas arderem de nervosismo. – Tornaste-te num bom amigo.

            – Quando tu te aproximaste de mim eu tive medo do erro que poderia estar a cometer, mas ainda bem que arrisquei.

            Mordisquei o lábio, sem saber bem o que dizer. Não queria que o ambiente entre nós se tornasse constrangedor ao ponto de já não conseguirmos desenvolver qualquer conversa menos subjetiva. No entanto, com o passar dos minutos, foi exatamente isso que começou a acontecer. O meu silêncio começou a tornar-se duradouro e a quietude de Luke não contribuía para mais.

            – Não cheguei a saber se sempre vais cantar no espetáculo da Academia. – comentei num tom mais alto, erguendo de novo a cabeça para fitar o loiro. Luke tentou conter um sorriso, brincando o seu piercing labial.

            – O Michael anda a tentar convencer-me mas... – encolheu os ombros, enfiando depois as suas mãos grandes nos bolsos das calças. – Eu nunca cantei para ninguém, é difícil aceitar uma proposta destas assim de repente.

            – Bem, já deves ter cantado para o Michael porque ele está plenamente convicto de que tu és a melhor opção. – soltei uma pequena gargalhada, relembrando todos os resmungos do meu melhor amigo.

            – Quando me concentro muito numa coisa acabo por começar a cantar. – Luke esclareceu, mais animado. – Mas é raro e normalmente quando acontece é de uma forma muito discreta. Eu simpatizo com o Michael mas acho que ele é muito impulsivo e esta foi uma péssima ideia.

            – Ele também te quer ajudar, de certa forma. – murmurei. – Iria fazer-te bem cantar. Eu ia adorar ouvir...

            – Tenho medo, Sophie.

Naive ಌ l.hOnde as histórias ganham vida. Descobre agora