XXXIV. A força de um amor

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Tinha chegado o final de semana e eu tinha inventado uma desculpa qualquer para a Manu ficar em casa. Não tinha a menor condição de ela ir para a casa do pai. Eu ainda não tinha contado para a minha filha sobre o acidente do Samuel. Mas de hoje não passaria.

Tínhamos acabado de jantar e depois de colocar o seu prato na pia, ela me olha com as duas sobrancelhas juntas, com os bracinhos cruzados.

– Mamãe, a senhora brigou com o papai Samuel?

– Não filha, porque pergunta? – ela já estava sentindo falta dele. Não era de se estranhar.

– É por que ele nunca mais veio aqui em casa para me dar um beijo e eu nunca mais ouvi a senhora falando no telefone com ele...

– Filha, é um pouco mais complicado do que isso... – deixo o meu prato em cima da mesa mesmo e pego a minha filha nos braços. Daqui a alguns meses eu já não vou conseguir fazer isso. Ela já está ficando muito grande.

Sentamos juntas no sofá da sala e pego uma mecha do cabelo dela e começo a enrolar no dedo, procurando um melhor jeito de começar a falar.

– O papai Sam está bem mãe? – ela pergunta.

– Filha, ele está bem, mas ele está no hospital... Ele vai passar mais alguns dias lá.

– Ele está doente é? Que nem daquela vez que eu fiquei com febre e tive que ficar deitada?

– De um jeito diferente filha. O Samuel se machucou filha, ele machucou a cabeça dele. Sabe como nos filmes às vezes o mocinho não lembra quem ele é?

– O papai não sabe quem eu sou? – vejo um brilho de tristeza cruzar os seus olhinhos.

– Não minha linda... Ele não lembra de conhecer você, ele não lembra de mim, ele não lembra de muita coisa na vida dele princesa...

– A senhora já tentou dar um beijo nele? Nos filmes isso sempre resolve. Um beijo de amor verdadeiro...

– Creio que não seja tão simples assim filha.

– A senhora não sabe se ama ele é? E se eu der um beijo na bochecha dele mãe... Eu tenho toda a certeza do mundo que eu amo o papai Sam. Será que assim ele melhora mãe? – ela fala com uma vozinha triste e baixa.

– Não é bem isso filha, é que na vida nem sempre acontece como nos filmes... E você sabe que o amo sim... Vamos ter que ver como a situação vai ficar minha filha. Temo que vamos ter que esperar ele sair do hospital para ter uma resposta mais completa.

– Mãe, será que eu posso visitar ele no hospital? Mesmo que ele não saiba quem eu sou eu queria ficar um pouco com ele...

– Minha linda, não sei se é a melhor coisa para se fazer no momento... O Samuel ainda está um pouco confuso e pode estranhar a sua presença...

– E se eu levar um desenho que eu fiz da gente mãe, será que vai ajudar?

– Vamos separar o seu melhor desenho e depois vamos entregar para ele, está certo?

– Certo mãe.

Ela vai ficando gradativamente mais alegre, até que chega a hora dela dormir. Vou caminhando até o quarto dela e ela me parece um pouco receosa antes de entrar, ela não se mexe e fica olhando para os próprios pés.

– Aconteceu alguma coisa filha? – pergunto a virando para mim, fazendo com que ela me encare.

– Não mãe, não é nada, é que... – ela parece incerta com as palavras. – Posso dormir hoje com a senhora?

Amor na Segunda VoltaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora