Eu abri um sorriso torto e ela me encarou de um modo estranho, franzindo o cenho.

– Claro que me lembro, mas quem anda esquecida é você - ela disse colocando uma azeitona na boca e me pedindo para esperar um minuto. – Eu te entreguei a chave um pouco depois do almoço, você subiu para o quarto e um tempinho depois desceu novamente me pedindo a chave.

– Ah é verdade... Esquece, acho que eu tô pirando – falei dando uma risada sem graça e completamente falsa.

Eu não queria rir, não havia pedido a chave para minha mãe. Tudo bem que às vezes eu tinha uns ataques de sonambulismo mas a última vez que isso havia acontecido tinha sido uns quatro ou cinco anos atrás.

– Acha que está? – Mamãe disse rindo. – Eu tenho certeza.

– É... quem sabe...

Dei de ombros e foquei nos pedacinhos de bacon que forravam minha pizza. Como eu amava calorias.

– Ah, bem... Acho que esqueci de avisar mas vou ter que voltar na casa antiga para buscar algumas coisas que acabaram ficando lá e na casa da vó Tina também. Vou sair amanhã cedo – mamãe disse e parei meu garfo na metade do caminho para a minha boca.

– E o Eliel vai junto, né? – perguntei e ela suspirou.

– Não ele não vai e...

O quê?! – Eliel exclamou indignado e revirei os olhos. – Não quero ficar! A Lis é louca, tenho certeza de que ela vai tentar me matar!

– É, eu também não duvido nada – retruquei com um sorrisinho cínico.

– Cala a boca, eu não estava falando com você, trouxa!

– Podem parar vocês dois! Marliss Stella, o seu irmão vai ficar sim e ninguém vai matar ninguém, tá ouvindo? – Minha mãe berrou irritada, esquecendo-se completamente de que comer pizza em família deveria ser um momento belo e precioso. – E você, seu Eliel, vai obedecer a sua irmã e nada de ficar aprontando e sendo respondão. Entenderam? – Eu e Eliel permanecemos em silêncio, fuzilando um ao outro como se estivéssemos tramando a maior guerra possível. – Entenderam?

– Sim, mãe – respondemos em uníssono e minha mãe sorriu, satisfeita.

– Ótimo. Tem um caderninho na gaveta da escrivaninha do meu quarto com todos os telefones que vocês podem precisar, inclusive da Tia Elizabeth e da avó de vocês. Eu também falei com nossos vizinhos, Peter e Mary, e se acontecer alguma coisa vocês podem ir até lá falar com eles, e... – ela parou estreitando os olhos, como se tentasse se lembrar de algo, mas acabou desistindo no meio do processo. – Acho que é só. Vou deixar dinheiro também, mas não é para gastar com besteira, e tentem não destruir a casa, por favor.

– Ok – respondi mesmo que mal-humorada e nem um pouco animada para ficar sozinha em casa com meu irmão.

Depois de comer pelo menos quatro fatias de pizza, peguei meu edredom e o desci para assistir um filme de terror na sala. Peguei a caixa onde estavam os filmes e comecei a procurar por um que parecesse bom e que eu ainda não havia visto, o que seria praticamente impossível de encontrar.

– Vai assistir filme de terror? – Eliel perguntou com os olhos brilhando.

– Sim – respondi sem emoção e já prevendo o que viria a seguir.

– Posso ver com você?

– Não.

– Chata – disse mostrando a língua e correndo para o quarto de mamãe.

Claro que o bebezinho mimado não dormiria sozinho, afinal, tinham morcegos roedores no quarto dele.

Acabei por deixar de lado todo aquele assunto e, enquanto fuçava a caixa de filmes, acabei por encontrar a sequência de um que tinha assistido há uns dois anos e que havia me feito dar belos gritos de susto. Eu ainda não havia assistido o segundo e parecia tão bom quanto o primeiro.

A Casa de BonecasWhere stories live. Discover now