4 - DÚVIDA

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Acordo pensando se tudo que aconteceu ontem foi real, se eu realmente revi o James. Tomo um banho rápido, coloco uma roupa simples, desço as escadas, pego uma maçã enquanto me despeço da minha mãe com um beijo na testa, agarro a minha mochila no cabideiro da entrada e entro no meu carro.

O caminho até a casa do James é próximo, então chego lá em poucos minutos. Saio do carro e ando até a porta da frente, respiro fundo e bato na porta. Agora eu vou ter certeza se o dia de ontem foi real ou somente um sonho.

A porta se abre e não consigo conter um sorriso silencioso. Foi real. É real.

— Joe? — James pergunta.

— Como você descobriu?

— Pelo seu cheiro.

— Espero que isso seja bom?

Ele ri.

— Com certeza é. Eu adoro o seu perfume.

Fico vermelho de vergonha.

— Vamos pra escola? — pergunto.

— Sim. Entra eu só vou pegar a minha mochila e já volto.

— Tudo bem — digo entrando na casa, então ele sobe as escadas.

— Oi Joe.

— Sra. Cameron, olá — me surpreendo percebendo sua presença no umbral da cozinha.

— Charlie tem razão você cresceu bastante — a mãe do James comenta. — É bom saber que o James ainda pode contar com você como amigo.

— Ele sempre vai poder contar comigo.

— Mesmo ele sendo cego agora? — ela fala com uma dose de desconfiança. Não sei qual é o seu objetivo com essa pergunta.

— Com certeza. Esse fato não muda em nada o meu sentimento por ele — respondo com firmeza.

Não me lembrava dela desse jeito, me lembrava de uma mulher receptiva e amorosa.

— Podemos ir Joe — James avisa descendo as escadas.

— Tenham uma boa aula meninos — a Sra. Cameron se despede.

— Tchau — James responde. Já eu não falo nada.

James segura no meu braço e caminhamos até o meu carro. O trajeto até a escola é rápido e tranquilo. Prefiro não conta nada ao James sobre a pergunta que sua mãe fez, me deixando um pouco chateado. Mas talvez seja bobagem da minha parte e ela só queria proteger o filho, não sei.

Chegamos à escola um pouco mais cedo, e andamos por ela toda. Mostro para o James onde fica cada lugar, ele me diz que sua memória agora é excelente e sabendo andar pela a escola ele terá mais independência.

Ficamos quase o tempo todo separados, não temos aulas juntos hoje, só nos falamos no almoço.

A aula de química é a minha última de hoje. Entro na sala sem nenhum ânimo, não gosto muito dessa matéria. A professora pede um trabalho em dupla e como sempre, Diana se senta comigo. Não sou muito bom nessa matéria, mas ela é pior que eu e sabe disso. Eu e ela não somos amigos. Diana é uma dessas meninas que só dá importância para a vida social e se senta com você quando está desesperada por uma nota.

— Então Joe, você está bem? — ela puxa assunto, e isso me preocupa.

— Estou — respondo, apesar de achar que ela não se interessa nem um pouco.

— Posso te fazer uma pergunta?

— Você acabou de fazer — brinco enquanto analiso as substâncias que a professora entrega. Mas parece que isso foi muito para o seu QI baixo entender então reformulo a resposta — Sim pode fazer.

— Então, eu vi você com o novo garoto, ele é um gato. Vocês estão namorando? Quer dizer, ele é gay? Porque a gente sabe que você é...

— Então automaticamente quem anda comigo também é gay? — corto sua fala.

— Não, não é isso. É só que eu gostei dele sabe...

— Não sei se ele é gay, não tivemos tempo para falar sobre isso — respondo irritado.

Ela continua a tagarelar sobre outros assuntos, mas minha mente se fecha e não ouço mais nada só penso na pergunta que ela me fez. Poderia o James ser gay? Não, acho que não. Essa é uma pergunta que eu nunca vou conseguir fazer ele, mas que vai demora pra sai da minha cabeça.

A aula acaba. Quando estou saindo da sala vejo James vindo em minha direção com a bengala, nós combinamos de nos encontrarmos aqui na hora da saída e parece que ele realmente aprendeu o caminho. E é nesse momento que percebo a intenção do grupo de meninos que está próximo dele, mas já é tarde demais.

Um dos meninos coloca o pé na frente da perna do James e quando ele dá mais um passo, o menino puxa o seu pé para trás com força fazendo James tropeçar e cair no chão. Tudo muito rápido.

— James — grito, correndo até ele. — Você está bem? — pergunto, ajudando ele a se levantar.

— Vou ficar — ele solta um meio sorriso.

— Vocês estão loucos de fazer isso com ele? — reclamo na direção do grupo de meninos, eles só me encaram rindo.

— Joe está tudo bem — James coloca a mão sobre o meu ombro.

— Não James, não está! Eles fizeram isso de propósito, temos que ir denunciar eles na diretoria — digo irritado com a situação.

— Está tudo bem Joe, vamos embora — ele insiste, pega no meu braço e saímos dali.

— Mais que raiva — digo entrando no carro.

— Relaxa Joe, eu estou bem tá. Não é a primeira vez que isso acontece. Vamos muda de assunto. Eu estava chegando perto da sua última sala?

— Estava — respondo um pouco mais tranquilo.

— Então eu chegaria até você se o menino...

— Provavelmente.

— Logo mereço uma recompensa e você precisa relaxar. Que tal a gente passa essa tarde em um lugar que eu estou louco para revisitar?

— Que lugar?

— Você vai gostar — é tudo que ele diz.


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