Capítulo 8

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Me virei para agradecer quem me segurou, mas fiquei estática assim que o vi. Era o mesmo homem que pedira meu telefone mais cedo. A adrenalina ainda corre nas minhas veias pela quase queda. Agora meu coração batia duplamente rápido por ver quem me segurou. Me desvencilhei de seus braços rapidamente, dessa vez estava mesmo com medo.

- Qual seu problema hein? Ta me perseguindo por acaso?!

- Ah de nada por te salvar de um tombo horroroso gatinha! - ele estava gargalhando.

Fiquei furiosa e o fuzilei com os olhos.

- Obrigada.

Disse apenas isso e atravessei a rua correndo, dessa vez sem perigo de quedas. Olhei pra trás para verificar se ele estava me seguindo até em casa, por sorte não. Mas ficou me observando até eu sumir para dentro do prédio de Guto.

Literalmente não sabia mais o que pensar sobre isso, no avião e agora até na cidade. Será que nunca vou ter paz nessa vida? Suspirei, assim que fechei a porta, com a cabeça encostada nela. Abri os olhos e me deparei com Guto, olhando para mim com uma expressão indecifrável. Num ímpeto me joguei em seus braços e ficamos assim por uns dois minutos.

Estava segura no meu refúgio, nos braços de Guto. Por um pequeno instante tudo se perdeu e eu me sentia confortável. Estava precisando disso. Calor humano. Sentir que sou amada de verdade por alguém e que a recíproca é verdadeira e não só palavras bonitas ditas da boca para fora.

- Você tem a mínima noção do quanto eu te amo, Guto? Do quanto sou grata por você? Meu Deus, como senti falta do seu abraço, da sua risada e das suas piadas alegrando meu dia. - levantei os olhos e sorri pra ele.

- Eu sei pequena, eu também te amo muito. Se acalma que tudo se ajeita, ta tudo escrito pra você...

Eu o soltei e senti o vazio crescer no peito. Sabia que tudo que ele me disse era certo. Me dirigi para a cozinha, sob o olhar meticuloso do meu amigo, a fim de tomar um porre. Abri a garrafa de vodca e despejei a bebida até a metade de um copo, que peguei no lava louças, e o virei de uma vez.

- Chama o Nic, não quero ficar bêbada sozinha! - disse me virando pro Guto

- Quando você foi comprar as bebidas ele saiu para o trabalho, já estava atrasado. Ou seja, só nós dois vamos ficar bêbados! - disse gargalhando

Peguei um copo pra ele e o enchi, fazendo o mesmo com o meu. Fomos pra sacada e nos sentamos para admirar a vista de Londres. A sacada não era tão grande, mas era confortável com uma pequena mesa de centro de madeira e um pequeno sofá de áreas externas. Levei o celular e minha caixa de som portátil, via Bluetooth. Coloquei no modo aleatório e Theese days - Foo Fighters inundou o ar.

Easy for you to say

Your heart has never been broken

Your pride has never been stolen

Not yet, not yet

Fácil para você dizer

Que seu coração nunca foi partido

Que seu orgulho nunca foi roubado

Ainda não, ainda não

Até o modo aleatório da playlist resolveu me colocar para baixo hoje. Guto me olhou profundamente, como se me desvendasse. Não gostava de receber olhares como esse, mas Mauro e Guto são exceção a regra. Nessa hora me sinto desarmada e sem esconderijo. Guto pega meu celular e para a música, dei um sorriso frouxo pra ele e não conseguia mais aguentar o ardor na garganta de segurar o choro. Virei o copo de vodca que desceu rasgando e as primeiras lágrimas começaram a escorrer. Guto me puxou pra ele e fiquei encolhida em seus braços, chorei até colocar toda minha angústia pra fora. Chorei como uma criança de cinco anos que rala o joelho no cimento.

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