-Entre palhaços, bonecas e assassinos

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Passaram-se poucos meses após meu último encontro com Charlie, e depois daquele dia ela não me procurou mais nem deu nenhum sinal sobre o divórcio.

Andrew estava trabalhando em dois empregos, apesar de não precisar pois o salário como auxiliar de escritório era suficiente para nós, e ele ainda estava cursando a faculdade. Eu sentia inveja da sua disposição para isso, eu mal aguentava acordar de manhã para ir a faculdade. Minha barriga estava começando a ficar mais evidente e Andrew gostando cada vez mais da ideia de ser pai.

Nós resolvemos todos os problemas que tínhamos. O apartamento já estava completamente organizado com as nossas coisas e a seguradora entregou outro carro para Andrew um mês depois daquele "acidente", estava indo tudo perfeitamente bem.

Mesmo assim eu esperei por alguma resposta de Charlie sobre o divórcio, mas depois de três semanas daquele último encontro minha ficha caiu. Ela nunca faria aquilo por mim e provavelmente estava com vergonha de me dizer. Apenas dei de ombros e segui minha vida com Andrew, já que havia decidido que era com ele que eu iria ficar.

Quando saí da faculdade em um dia qualquer, surpreendentemente, Charlie estava lá me esperando, encostada em seu carro aparentemente novo, com as mãos nos bolsos da calça e usando óculos escuros. Andei até ela rapidamente.

-O que está fazendo ai? Andrew pode ver você aqui!

-Ótimo! Assim você diz pra ele que vai ficar comigo.- Charlie segurou em meu queixo brevemente.

-Eu vou ficar com ele, Charlie.- Disse quase num sussurro.

-Você o que?!- Ela estava histérica- E tudo o que a gente conversou? Eu não sou sua palhaça! ELE deveria ser o palhaço da sua história.

-Parece que estamos todos entre palhaços, bonecas e assassinos, não é?

-Bonecas? Assassinos?- Ela franziu a testa- Precisa ser mais específica.

-Você me tratou feito uma boneca! Você aparece, usa e depois some... Olha pra mim!- Gesticulei para minha barriga- Já tem três meses que você não me procura.

-Eu disse que seria complicado, mas eu consegui achar uma brecha e agora você diz que não me quer mais, e que vai ficar com aquele otário.

-Acho que isso não te impedia de vir me ver, dizer o que está acontecendo...

-Ei! Espera... Você esqueceu de explicar o "assassino".

A encarei.

-Você bateu no carro do Andrew, não foi!?- Semicerrei os olhos.

-O que? Por que eu faria isso? Eu seria mais direta, tipo um tiro ou uma facada.

Revirei os olhos.

-Charlie, por favor. Não precisa mentir. Eu sei que foi você quem tentou atropelar ele..

-E falhei duas vezes.- Ela me encarou-Na próxima eu acerto.

-Ele chegou em casa molhado e sangrando por sua causa.- Cruzei os braços.

-Que pena. Não era nem pra ter chegado.- Charlie acendeu um cigarro.

-Você é doente.- Pus a mão na testa.

Ela segurou meu braço com a mão livre.

-Eu te avisei e na próxima eu não vou errar.- Ela encarou meus olhos.

Andrew chegou de repente soltando a mão de Charlie de mim.

-O que pensa que esta fazendo?- Ele perguntou nervoso.

-Era só o que faltava...- Charlie revirou os olhos.

-O que ela tá fazendo aqui, Elisa?-Andrew me olhou.

CharlieOnde as histórias ganham vida. Descobre agora