2. A Floresta

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A cena seria cômica se não fosse uma coisa séria. Mariana estava vestida de ninja - totalmente de preto - do lado de fora da janela do meu quarto, batendo na vidraça pra que eu abrisse a janela.

Ao abrir a janela, Mariana saltou para dentro do meu quarto e se sentou na minha cama. Eu não pude evitar de rir baixo, ela me fuzilou com os olhos.

- O que foi? Você está engraçada! - Me defendi.

- Cala a boca. Por que você não está vestido pra se camuflar também? - Ela disse, me observando de cima abaixo. Eu só usava um jeans azul, tênis, camisa verde e casaco cinza.

- Porque sou uma pessoa normal - respondi, pegando meu bastão de baseball e colocando na mochila que eu levaria.

- Pra quê o bastão?

- Vai que a gente precisa, ué.

- Acho dificil, gênio.

- O.K., Mapa, você é a esperta. Mas não abrirei mão de levar meu bastão.

Mariana semicerrou os olhos enquanto olhava para mim. Ela levantou um dedo apontando pra mim.

- Tome cuidado, Jason Hunt, eu sei muito bem o que é sarcasmo - eu apenas ri quando ela disse isso.

- Certo.

- E não vai precisar do bastão, você é um metamorfo, gênio. Pode se transformar em um lobo de mais de um metro e meio com as quatro patas quase três metros sobre duas patas. Não vai precisar disso.

- Um lobo ou um leão. Não esqueça disso.

- Claro, Simba, claro - ela disse, eu apenas ri e coloquei minha bolsa nas costas.

No exato momento em que saímos, ouvi a porta do meu quarto abrir e meu irmão mais novo - que não era adotado - abrir a porta.

- O que diabos vocês estão fazendo? - Ele perguntou para nós, Mapa já estava do lado de fora da janela e eu estava passando uma perna por ela. Tomei um enorme susto na hora.

- Caramba, Jansen! Quer me matar de susto? - Eu exclamei em voz baixa.

- Fica frio, o papai está dando plantão hoje, lembra? - Jansen olhou pra trás da porta. - Aonde vocês estão indo?

Jansen não sabia dos meus poderes, claro, nem sabia que existia seres míticos que podiam se transformar em super-animais, então tive que improvisar na hora.

- Estamos... Er... Indo acampar, aproveitar que o papai está de plantão e vamos acampar - disse, não muito convincente.

Jansen me olhava com uma careta que indicava que ele não tinha caído nessa desculpa esfarrapada.

- É claro que vocês não vão fazer isso - ele disse olhando para Mapa, provavelmente confuso pelas roupas que ela estava usando.

Suspirei.

- Certo, você não precisa saber, se eu te der cinco dólares você fica calado? - Eu disse.

- Vinte - ele disse.

- Sete - eu disse.

- Quinze.

- Dez, no máximo.

Jansen ficou pensativo por um momento antes de responder.

- Fechado - ele disse. Tirei minha carteira do bolso e a abri, dali tirei uma nota de dez dólares e a entreguei para meu irmão de quatorze anos. - Foi bom fazer negócio com você.

Ele se virou e foi embora do meu quarto, fechando a porta a seguir. Mamãe me mataria, se ainda estivesse viva, por fazer isso, mas eu precisava ir até aquela floresta, mesmo que eu tivesse que deixar meu irmão sozinho em casa para isso.

Mapa e eu descemos do telhado pela escada lateral da casa e corremos furtivamente por dois quarteirões, até chegar na beirada da floresta.

Ao entrar, puxei minha mochila e retirei as lanternas e entreguei uma pra Mapa.

- Pra quê isso? - Ela perguntou pra mim.

- Precisamos enxergar alguma coisa, não é? - Falei.

- Eu consigo enxergar no escuro.

- Eu não, ué.

- Às vezes esqueço que você não ativa seus poderes parcialmente, nem pra enxergar melhor.

Ascendemos as lanternas e nos embrenhamos na mata, seguindo uma trilha comum até chegarmos ao ponto que queríamos. O local do ataque da noite anterior.

Nós nos separamos um pouco para procurar pistas. A cena consistia em uma pequena clareira onde a família estava acampando, haviam duas barracas, uma pro casal, outra pros filhos. As barracas estavam totalmente devastadas, rasgadas e havia muito sangue espalhado.

- Qual barraca você acha que foi atacada primeiro? - Perguntei.

Mapa virou a lanterna para mim.

- Isso faz diferença? - Ela perguntou.

- É claro que faz. Pode dar uma direção, sabe? De onde o animal veio, pra onde foi... - eu falava enquanto andava pelos destroços da barraca, procurando pistas, patas, pelos.

Depois de inspecionar bem o local, descobri que as patas indicaram que o animal veio do Norte, mas não mostravam para onde o animal foi. Eram enormes patas lupinas, maiores que as minhas transformado em lobo, mas aquilo tudo era muito confuso, as patas dianteiras pareciam menores que as traseiras.

Informei a Mapa de tudo que encontrei.

- É realmente muito estranho, as patas dianteiras são menores que as traseiras, você disse? - Ela estava pensativa.

- Sim. Eu não acho que seja um metamorfo... Não um como nós - respondi.

- Claro que não, ele é bem... - ela parou por um instante, observando as árvores - espera um pouco.

Mapa partiu correndo na direção de uma árvore atrás de mim, parando nela, analisou uma marca na árvore, provavelmente deixada pela fera. A marca estava a quase dois metros na árvore.

- Estranho, como ela pode ter deixado essa marca aí à dois metros do chão? - Perguntei.

- O mais estranho... É que parece uma mão - ela respondeu.

- O que? Isso não é possível.

- Olhe aí.

Me aproximei da árvore e a averiguei. Parecia mesmo que uma mão de cinco dedos enormes e com unhas pontiagudas havia se fixado naquele tronco.

Olhei para baixo e vi as pegadas dos monstro. Ele deixou uma trilha de pegadas e manchas de sangue seco no chão da floresta. Seguimos as pegadas para o sul e depois para o leste.

Meu coração começava a acelerar tentando pensar que aquilo poderia estar errado. Caminhamos por quase um quilômetro até meu medo se concretizar.

As pegadas iam para a rodovia, coberta de areia, onde as pegadas enormes de lobo mudavam de forma, ficaram menores, onde ele só usava as patas traseiras. E essas pegadas lupinas se transformavam em pegadas humanas. Dali em diante eu tinha certeza de uma coisa:

Havia um metamorfo canibal na cidade. O que significava que todos nós estávamos em perigo.

O Caçador - Crônicas dos Metamorfos (Vol. 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora