Sua áurea viva em meu sangue

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  Gostava de olhar para as rosas, tão vermelhas que faziam meu sangue circular mais rápido. O arranjo de flores era a única coisa que dava vida a construção etérea de mármore cinza. Aquela cor me fazia sentir sufocada, o piso frio não me trazia alento e o portãozinho de metal que lacrava o túmulo me desesperava.


Vovó segurou em minha mão e sorriu docemente me apoiando. Já fazia um tempo que meu cunhado discursava, mas eu não conseguia prestar atenção, tudo que podia encarar eram as rosas, o único resquício de vida daquele lugar.

Olhei para a foto na lápide, para aquele homem de lábios finos e olhar paciente, Fergus Lace, amado esposo e pai. Hoje completava dois anos em que acontecera o acidente de carro, dois longos anos em que eu não recebia o seu abraço e sorriso conciliador.

Hoje não era um dia para se lamentar e sim de comemoração a memória de meu pai. Nós do clã dos dragões realizamos essa cerimônia todos os anos, primeiramente vamos ao cemitério pela manhã, levamos flores, dizemos algumas palavras de consolo aos amigos e familiares e acendemos uma tocha para relembrar que a áurea da pessoa ainda vive, correndo por nosso sangue. Depois da homenagem, que dura cerca de uma hora, os amigos cumprimentam os familiares e se vão, deixando que os entes queridos conversem com o falecido. Acreditamos que, enquanto a chama da tocha estiver acesa, ele pode nos ouvir. Voltaremos para casa, onde vovó prepará os pratos preferidos do papai, depois do almoço vamos pegar o álbum de fotos e relembrar os bons momentos, à noite abriremos seu vinho favorito e cantaremos belas músicas antes de dormir, é assim que tratamos a morte, como o começo de algo maior e melhor.

Vejo Conan acender a tocha, ano que vem será a minha vez de escolher as flores e acender a labareda homenageando meu pai, a criatura mais franca e feliz que eu já conheci, era infantil por natureza, adorava brincar conosco e tinha grandes sonhos para família Lace, muitos deles ainda não haviam se concretizado, mas eu os realizaria, um por um, me esforçaria ao máximo, mamãe teria sucesso no restaurante que tanto sonhou, Conan poderia trabalhar no que quisesse e vovó não precisaria mais cuidar da casa durante 24 horas, eu ganharia dinheiro suficiente para comprarmos uma casa maior e provaria que tenho mais capacidade do que apenas ser uma parte dragão, eu era Aimil Lace, filha de meu pai e a nossa história ia mudar!


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A Era dos Dragões I: A Origem da Magia #degustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora