Capítulo 13

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Já estava com os olhos cansados, o dia havia sido muito longo e pesado para mim. Mas só conseguiria dormir tranquilamente se ele continuasse ao meu lado. Depois daquelas horas, ele havia se tornado um anjo em minha vida.

Ele continuou a olhá-la. Hanna quis desviar os olhos, mas não conseguiu. Gabriel continuou segurando sua mão, e, com carinho, entrelaçou-a na dele, para o espanto dos dois. Ambos ficaram assustados com esse gesto, mas Gabriel continuou firme no seu propósito. Voltou a atenção para o livro em suas mãos, respirou fundo e começou a ler:

"Acho que estou apaixonada. Não paro de pensar nele e, pelo jeito, ele também, porque acabou de me beijar e me convidou para sair. Isso mesmo, acredita? Por mim, sairia pela casa inteira gritando, mas não posso. Meus pais não sabem de nada e nem quero que saibam. A crise aqui está feia, espero que meus pais se entendam logo."

"Os últimos dias têm sido maravilhosos, nem tenho tido tempo de escrever direito. Depois da escola sempre me encontro com ele e passamos a tarde inteira juntos. Meus pais não estão gostando nada disso, não param de pegar no meu pé, já estou ficando irritada com isso. Poxa, não sou nenhuma criança. Pela primeira vez, tenho um namorado e todos estão contra mim, até o meu irmão decidiu começar a me vigiar. Isso está ficando ridículo."

"Finalmente eu e ele encontramos uma solução que vai mudar tudo na nossa vida. Vou só esperar terminar a escola, falta somente uma semana e então vou ficar com ele, pra sempre e ninguém vai me impedir. Já tenho 18 anos e sou independente. Depois que a poeira estiver mais baixa e com a vida engatilhada com o meu namorado, volto e converso com meus pais. Eles vão ter que aceitar, sem alternativas!"

Esse foi um dos poucos relatos encontrados em duas folhas perdidas numa caixa com as coisas de Suzane Donly. Ela havia se apaixonado, como muitas pessoas. Só não esperava que aquela paixão se tornasse algo tão doentio para o companheiro.

Gabriel ouviu o suspiro inconformado de Hanna e apertou a mão dela calmamente. Como estavam próximos devido ao pequeno puff, facilmente encontrou sua testa, depositando um beijo.

— Isso já passou, Hanna.

Ela sabia que tudo já havia acabado, mas era triste ouvir o relato de sua prima, estava tão apaixonada que chegou a ficar cega. Isso também havia acontecido com ela. E o começo era sempre assim, mil maravilhas e muitas promessas. Pena que tudo se quebrava com muita facilidade.

Gabriel continuou a ler com a voz não muito alta, para não acordar sua sobrinha. O começo do livro eram relatos que encontraram de Suzane, como o seu diário que Melissa havia achado milagrosamente no parque da cidade, e algumas raras folhas encontradas numa caixa com as suas lembranças.

Não encontramos mais nada sobre Suzane, a não ser relatos dos próprios vizinhos. Mesmo morando a certa distância, percebiam um clima pesado na casa. Raramente viam Suzane sair, e, quando isso acontecia, seu semblante estava sempre abatido. Não olhavam muito para o casal, porque percebiam logo a cara nada amistosa do marido. Segundo eles, chegava a dar medo!

Alguns meses antes de Suzane vir a falecer, uma vizinha contou que ela tentou fugir. Escutou vários barulhos, e enquanto passava pela rua de trás, viu a moça tentando escalar o muro da própria casa. Não demorou para o marido chegar e, então, escutou alguns berros. A vizinha correu para casa e ligou para a polícia. Eles foram até o local, mas nada aconteceu. Naquele dia, ele não bateu em Suzane. Não havia nenhuma prova contra aquele homem, e os únicos que poderiam falar alguma coisa eram os vizinhos, entretanto, por medo, decidiram se calar.

O despertar de uma canção - DegustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora