Capítulo Quatro - Hannah

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— Ok, eu sempre quis ser médico na verdade. Eu sempre fui um bom aluno e não foi difícil passar em Oxford.

— Certo, senhor "sabe-tudo" que nem parece que foi o mesmo que me pediu ajuda em álgebra há alguns anos. – É claro que eu não pude deixar de mexer na ferida.

— Nunca vai me perdoar por isso? – ele pergunta,e divertimento se esvai do seu rosto e ele fica com uma aparência culpada. Franzo as sobrancelhas, em dúvida do que fazer e o que pensar sobre ele. Frank se culpa pelo que aconteceu? Pois bem, ele deveria.

— O que aconteceu, Frank? – pergunto me fazendo de desentendida. Talvez seja um bom modo de fazê-lo esquecer.

— Oh... No Ensino Médio os... – ele para no meio da frase, sem ter certeza de continuar ou não.

— Os o quê? – pergunto— eu realmente não sei do que você está falando.

— Mas os meus amigos e eu...

— Não sei, Frank. – ele parece estar mais confuso do que nunca — Se for o que eu acho que é, eu já perdoei esses caras há muito tempo. Eu não sei do que você está falando porque são coisas das quais eu já esqueci. – Frank fica menos confuso agora, mas ainda assim ele parece estar se sentindo culpado.

Se eu consegui perdoar Frank, porque ele não pode fazer o mesmo?

A aparência dele é como se alguém estivesse lhe torturando e só demonstra o quanto Frank se sente culpado por uma coisa que ocorreu quando ainda éramos crianças, adolescentes... Tanto faz, éramos inconsequentes, nós dois, porque se eu tivesse pensado com a razão e não escutado meu coração, nunca teria deixado Frank entrar.

Eu tinha sido burra demais naquela época e não seria novamente. Preciso terminar esse café o mais rápido possível, não quero mais prolongar esta conversa.

— Certo. Obrigado.

— Não há de que– respondo a ele. — Sou comentarista porque foi o emprego oferecido pra mim. Era para que eu ficasse apenas algumas semanas, algo como um estágio, já que eu estava terminando a faculdade de música, mas eu acabei gostando do emprego– expliquei. Ele ficou confuso, mas logo depois sorriu um sorriso lindo... Não consegui evitar. Merda, Hannah, o que está acontecendo com você hoje?!

Sorri de volta e, para disfarçar, tomei um gole do meu café. O tempo está frio e fico feliz quando sinto o efeito da minha mão gelada ao encontro do copo quente.

Gosto de Londres por ter esse tipo de clima, mas eu não estava preparada para passar dois dias no hospital, sendo assim estou usando uma roupa simples que disponibilizaram pra mim e esse é um dos motivos por eu querer chegar em casa logo e tomar um banho demorado.

—Ei, há quanto tempo você não dorme? – pergunto de brincadeira, voltando ao nosso assunto original sobre profissões, mas eu estou mesmo curiosa. Ele soltou uma gargalhada que faz meu corpo se aquecer mais do que o gole do café que tomo em seguida à sua gargalhada.

— Bom, para a sua informação, eu estava dormindo quando recebi a ligação do hospital, da sua emergência.

— Oh, me desculpe então por ter atrapalhado seu sono de beleza.

Ele revira os olhos, mas está sorrindo.

— Isso aqui existe para os médicos, é o que eu digo – ele diz com certeza apontando para o copo de café em suas mãos. – Eu não vivo sem dois ou até três copos dele por dia.

— Vai acabar tendo problemas por causa do excesso de cafeína – retruco, entretanto, não estou preocupada... Eu acho que não.

— Vivo há base disso há anos e nunca passei mal. – ele ri— Afinal, sou médico. Minha saúde é indestrutível.

Em seguida o assunto morreu, mas isso não nos impediu de fitar um ao outro com olhares e sorrisos idiotas.

Olho para o meu relógio de pulso que havia conseguido sobreviver àquela maluquice. O relógio marcava quase meio dia.

— Tenho que ir, Frank – falo, depois que termino meu café,quando ficamos em silêncio. — Tudo o que eu mais quero é minha cama.

— Tudo bem. Você quer carona? – ele pergunta amigavelmente.

— Não preciso, eu vou de ônibus ou pego um táxi – recuso. Não quero que ele me leve. Não quero passar mais tempo com ele.

— Não! Eu te levo! –Frank insiste, e isso me parece tentador por um momento.

Sorri genuína, mas ao perceber meu sorriso, logo o retiro do meu rosto.

É claro que ele iria continuar insistindo, por isso apenas concordei e nos livrei de dores de cabeças, vindas de uma pequena possível discussão.

Nós saímos da cafeteria e, lado a lado, acompanhei Frank até o estacionamento, onde surpreendi-me quando chegamos, mas não pelo carro de Frank ser uma BMW, e sim pelo fato de ele ter aberto a porta para mim.

Nós entramos e ele ligou o rádio. Uma música qualquer começa a tocar e franzo o cenho quando ele está tirando do modo CD para as rádios; e então o vejo salvar a rádio onde eu trabalho nos "favoritos".

— Sério? – pergunto e ergo uma sobrancelha.

— Sim, porquê? Algum problema?

— Nenhum.

— Você poderia me passar o endereço da sua casa? – fico confusa por uns instantes porque o sorriso que ele me deu me confundiu, mas logo consigo me lembrar onde eu estou. Passo o endereço para ele e, apesar de minha casa ficar há uma hora daqui, ele não reclama.

Nós fizemos o caminho até minha casa com o rádio ligado e hoje quem está fazendo o trabalho que eu deveria fazer é Beth. Isso me lembrou que eu deveria ligar para ela e contar o que houve.

— Estamos quase chegando – Frank anuncia.

— Onde você mora? – pergunto por curiosidade.

— Há duas quadras do hospital – responde tranquilamente, e eu arregalo os olhos.

— Porque me trouxe então? Estamos muito fora de seu caminho – questiono.

— Estou bem Hannah – admite.— Meu chefe está quase me chutando do hospital por trabalhar tanto e sinto falta de dar uma volta de carro.

— Se seu chefe está quase te tirando a chutes do hospital porque veio me atender? – estou confusa.

— Porque sou o melhor cirurgião daquele hospital. Tenho mãos mágicas! – ele diz em tom risonho. Eu rio também.

Frank é um idiota, mas estranhamente estou gostando disso.


Para Sempre ElaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora