Capítulo I - O Encontro

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Restaram no lugar somente Crispian, o lobo morto e a criatura que se voltou para o jovem. Os olhos dos dois se encontraram em uma estranha contemplação e assim ficaram por alguns instantes.

Crispian notou que os olhos da fera, que se destacava em sua face escura devido ao tom azul muito mais claro que os seus, pareciam gentis como de um ser humano.

Um pouco abismado, sorriu, e seu sorriso se desfez quando notou adereços no lobo que o fizera acreditar que aquele animal tinha um dono. Argolas douradas ornamentavam suas patas e a coleira era como os colares egípcios e intercalavam-se entre placas douradas recortadas em losangos e fileiras de pedras brilhantes. Era certo que aquela criatura tinha um dono e, pelos adornos extravagantes, deveria ser alguém com o status mínimo de um rei.

O animal se sentou na frente de Crispian e continuou observando-o de forma serena.

O garoto, que até então estava paralisado de medo, elevou sua mão direita com a intenção de tocar a face felpuda da criatura, que permitiu o toque.

Crispian sorriu ao fazer aquele afago na face do animal e vê-lo retribuir fechando os olhos, aproveitando do carinho que recebia.

— Você é tão lindo. Será que poderia me ajudar a encontrar meus pais?

...

Os cavaleiros de Edward retornaram até o casal com o cavalo do filho, mas não havia nem sinal do jovem lorde.

— Onde está meu filho? — perguntou o pai desesperado.

Um dos homens abriu a boca para se pronunciar, quando o grito de Francine chamou atenção deles.

Boquiabertos, eles abriram espaço para chegada de uma criatura que trazia em seu dorso o jovem Crispian.

Passado o instante de choque e ao perceberem que o animal era dócil, o menino tentou convencer o pai a adotar seu salvador.

— Não podemos, Crispian — Edward tentou resistir, ainda hipnotizado diante daquela criatura.

— Por que, papai?

— Olhe para ele, meu filho — pediu, enquanto criava coragem para tocar o pescoço do lobo. — Está carregado de joias pesadas e ainda... — o homem dedilhou o losango central do colar de ouro que servia como coleira e identificou uma escrita em alto relevo. — "Earthen" provavelmente tem dono. E um dono nobre e riquíssimo pelo que vejo.

— Earthen?

— É o nome gravado no medalhão.

Os olhos lacrimejados do garoto se moveram do pai para o lobo. E como se tentasse consolar sua própria decepção ele lamentou-se ao animal.

— Acho que não poderemos ficar juntos, Earthen.

Os cavaleiros de Edward chegaram da vistoria em torno do local e se aproximaram dele para relatar o resultado.

— Não encontramos nenhuma residência de luxo no raio de quilômetros, milorde. Se o animal pertence a algum nobre, este provavelmente não vive nas redondezas.

— Será que essa criatura está perdida?

— Ou abandonado.

— Não acredito que alguém abandonaria um animal carregado de joias como ele.

Os olhos de Crispian brilharam ao ouvir a palavra "abandono".

— Se ele está abandonado, diga que podemos ficar com ele, papai?

O homem se ergueu e firmou as duas mãos na cintura. Em seguida correu seu olhar avaliativo pelos cavaleiros, o filho, a criatura e enfim repousou-o sobre sua esposa, buscando em Francine um último argumento.

Mas a esposa sorriu docilmente e, condescendente com o pedido do filho, ela deu de ombros e pronunciou-se a favor.

— Apesar de ser um tipo raro e ter esse tamanho monstruoso, Earthen parece um animal domesticado, Edward. Ele salvou a vida do nosso filho. Acho que não há perigo algum em ficarmos com ele até encontrarmos seu verdadeiro dono.

O garoto moveu rapidamente os olhos da mãe para o pai e com a esperança renovada esperou o homem mais velho dar seu veredito final.

Edward suspirou e sentindo-se vencido diante de mãe e filho, declarou:

— Somente até encontrarmos o verdadeiro dono, Crispian. Por isso, não se apegue...

Antes mesmo que o pai terminasse a advertência o jovem nobre se agarrou ao pescoço do lobo e comemorou eufórico.

— Obrigado, papai! Obrigado!

Fim do Primeiro Capítulo

As Origens de SebastianOnde as histórias ganham vida. Descobre agora