Capítulo 6

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"We got the afternoon

- Nós temos esta tarde -

You got this room for two

- Você tem esse espaço para dois -

One thing I've left to do

- Só tenho uma coisa a fazer -

Discover me, Discovering you

- É me descobrir, Descobrindo você -"

(John Mayer –Your Body Is A Wonderland)

O galpão já estava lá quando Tio Tito arrendou as terras, pelo menos uns trinta anos antes daquele dia. Nada ali parecia estar no lugar certo e destoava do restante das outras construções do Rancho, que tinha um padrão de pintura branco e azul claro, bem conservado em toda parte externa. O lugar tinha uns quatrocentos metros quadrados e a altura lembrava uma casa de dois pavimentos. As madeiras velhas mostravam frestas largas de onde saíam partículas de poeira e era possível espiar o interior.

David caminhava à minha frente sem soltar minha mão que tremia e suava de ansiedade. Chegamos à porta dupla de metal enferrujado, fechada com um grilhão grosso, sem cadeado. David parou abruptamente de frente ao umbral, de modo que, sem querer, acabei me estatelando em cima dele. Por sorte, ele era uma rocha e pelo menos não acabamos no chão.

— Amor... — ele disse hesitante. — Você tem certeza de que quer entrar aqui? — Ele espalmou sua mão livre na lâmina fina de aço que me separava do resto da minha vida.

— Sim, eu tenho — confessei. — Eu não tenho certeza de nada mais na minha vida, David. A não ser de que quero ficar com você para sempre. Eu quero você. Quero deixar as dores e incertezas para trás. — Minha respiração estava entrecortada, minhas pernas tremiam. Não conseguia distinguir até onde aquilo era medo ou antecipação.

Antes que eu percebesse, David inverteu sua posição comigo, eu senti a friagem nas minhas costas, que estavam prensadas contra a porta. Ele percorreu meu corpo com o olhar, depois passou os dedos levemente nos meus cabelos, desenhando os cachos que desciam até a linha da cintura - sempre me orgulhei da minha cabeleira longa e castanha - e sua aprovação com o que via estava explícita em seus olhos.

— Mas você disse que...

— Nada de, "mas", meu amor. — Eu o interrompi, tocando seus lábios com o dedo indicador. — Esquece o que foi dito. Tudo o que importa é o que está aqui. — Apontei para o meu coração e depois para o dele.

— Não quero que você faça nada por pressão, Julie — ele disse abaixando a cabeça, aproximando-se do meu rosto de olhos fechados, esperando minha reação.

— David, eu quero. Muito. De verdade — eu afirmei, minha voz estava embargada pelo desejo. — Não estaria aqui se fosse diferente.

Pude ouvir seu suspiro e sentir o hálito doce que ele deixou escapar. Como se o alívio extravasasse, ele me deu um beijo alucinado e tão desesperado que a força que ele me pressionou fez a corrente deslizar pela abertura e abrir a porta. Mal notei que estava de costas no chão. Naquele momento eu estava concentrada nos lábios quentes que dançavam no meu pescoço, enquanto uma mão habilidosa serpenteava minha coxa por cima do vestido. Antes que eu também pudesse começar a explorar suas curvas, David se levantou e fechou novamente a porta, passando a corrente por dentro, e encostando um tonel de PVC junto à fechadura improvisando uma barreira, caso alguém tentasse entrar.

Eu o segui até o mezanino do anexo, onde montes de feno estavam espalhados. David estendeu uma espécie de cobertor velho que estava cobrindo uma das máquinas guardadas sobre alguns deles. Tive a impressão de que todo o ar do galpão havia sido sugado para fora. David parou por um instante, me examinando como se contemplasse algo divino. — Meu amor — ele sussurrou, ao estender a mão para que eu fosse até ele. Todas as minhas terminações nervosas estavam ligadas em uma tomada de 220v.

Delicadamente, ele me colocou sobre o cobertor, deitou-se sobre mim eacariciou meu rosto. Ele estava no comando e eu, totalmente à sua mercê. Nãohavia mais nada ocupando meus pensamentos. Decidi que nada mais me impediria deser feliz. Nem pesadelos, acidentes, lembranças nem dor. Meu mundo estava sendoresumido a um celeiro - que eu me dera conta de que não era tão assustadorassim - uma cama improvisada e um homem que me amava. Eu devo ser uma dasfilhas prediletas de Deus. Não é possível que um cara lindo desses realmenteseja meu.w

Quando Acreditei em DestinoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora