Capítulo onze

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Eu dou uma risada fraca. Meu chefe era muito sensível.

- Obrigada por ter cuidado disso por mim.

- Não tem problema – ele fala enquanto se curva na minha direção e me dá um beijo na testa.

Seu perfume toma conta de mim quando sinto seus lábios contra a minha pele.

Tenho certeza de que o beijo foi apenas um impulso quando ele volta a se sentar na cama e seus olhos se desviam dos meus. Eu sorrio, porque sendo impulso ou não, ele fez aquilo porque quis.

- Ela está nesse quarto? – uma voz familiar vem do corredor. Eu me forço a tentar lembrar de onde a conheço.

Conrado pula da cama e fica entre mim e a porta quando um garoto moreno entra no quarto. Era Kevin.

Agora eu me lembro do porquê me distraí e fui atropelada.

- Eu disse para você dar o fora daqui – Conrado fala com raiva.

Como assim? Os dois tinham conversado?

- Eu sou namorado dela, eu tenho direito de vê-la – Kevin diz, tentando se aproximar de mim.

- Você não é namorado dela – Conrado retruca e ele parece querer pular no pescoço do meu ex. – Vá embora! Ela precisa descansar.

- Vá você embora. Eu vou ficar com ela.

- Parem de brigar! – eu falo, antes que um dos dois comece uma briga e então eu tenha um companheiro de quarto quebrado. – O que você está fazendo aqui, Kevin?

Ele corre na minha direção e segura as minhas mãos, beijando cada uma delas.

- Ah, meu amor, eu estava lá na hora do acidente, lembra? Fui eu que chamei a ambulância.

Escuto Conrado bufar, furioso. Presenciar Kevin se referindo a mim como seu amor também não me agradou.

- Eu disse a ele que você não iria querer vê-lo – Conrado me fala.

- E eu disse que você poderia ir embora – Kevin diz, irritado, enquanto se vira para olhá-lo. – Não sei porque a enfermeira insistiu em ligar para você.

Eu balanço a cabeça, confusa.

- Eu já disse para parar com a briga! – dessa vez eu também estou furiosa.

- Desculpe, meu amor, não vai mais acontecer – Kevin diz ao se sentar do meu lado na cama e passar seu braço por traz de mim, me puxando para mais perto dele. – O que importa é que você está bem.

Conrado revira os olhos e sai do quarto batendo a porta com força.

- O que você está fazendo aqui, Kevin? – eu pergunto. – E não estou me referindo ao hospital, mas sim a cidade.

Ele franze o cenho.

- Eu estava sentindo sua falta. Já fazia mais de dois meses que não nos víamos.

- Esse era o objetivo – eu digo. – Eu não queria ver você.

- Por que não?

- Porque nós terminamos! – eu falo, e é a primeira vez que percebo que estou magoada com o término.

Quando Kevin terminou comigo, eu fui forte. Mas agora eu não precisava ser. Dionísio me odeia, a turma de teatro inteira deve pensar que eu me vendi por um papel bom na peça, minha melhor amiga pode descobrir a qualquer momento que eu estive mentindo para ela por semanas e, além disso tudo, eu estou com meus braços enfaixados, no hospital.

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