Capítulo 10 - O Golpe Derradeiro

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– NÃO! – Flora gritou, enquanto a espada de Brodderick Carnell descia, em alta velocidade, em direção ao pescoço de Fausto Valaskes.

Mas seu grito foi abafado por uma voz juvenil:

– PELA PRINCESA!

Antes mesmo que a espada atingisse seu objetivo, Brodderick Carnell interrompeu o golpe e se virou violentamente, lançando uma cotovelada para trás. Só então Flora percebeu o recém-chegado. Era um garoto, não devia ter mais que quinze anos. Chegou sorrateiramente enquanto toda a atenção estava voltada para o príncipe Fausto, e, no momento exato, perfurou as costas de Brodderick com seu pequeno punhal. Mas aquilo não seria suficiente para aniquilar o general inimigo, e agora o rapaz jazia inconsciente, depois de tomar uma cotovelada de Brodderick, que o arremessou a metros de distância, batendo a cabeça na parede de pedra do castelo.

– O que significa isso?! – Brodderick ficou boquiaberto perante a valentia do pequeno e insignificante aldeão.

De seus comandados, o mais velho se aproximou a fim de dar cabo à vida do garoto, mas, no momento em que o faria, uma foice voou em sua direção e ele precisou se esquivar. Em pé sobre o parapeito da sacada, um fazendeiro brandia seu forcado. Não possuía treinamento militar, mas braços fortes para escalar a hera que recobria a parede abaixo da sacada, e coragem para enfrentar a morte, se preciso, na defesa daquilo em que acreditava.

– PELA PRINCESA QUE DÁ A VITÓRIA A HYNNELDOR! – Gritou ele, e jogou-se sobre o soldado mais velho.

O homem logo foi morto, mas outros surgiram do mesmo lugar. Eram lavradores, comerciantes, oleiros, que, ao descobrir o retorno da princesa, perderam o medo, desistiram da fuga e retornaram para enfrentar os inimigos. Homens recolheram as espadas abandonadas em campo de batalha, mulheres e crianças se armaram de paus e pedras. Uniram-se, todos, e serviram de reforços aos soldados remanescentes.

Isso deu a Flora a oportunidade de se aproximar de Fausto e fazê-lo levantar-se. Ao seu lado, um grupo de pescadores afastava dela os inimigos que tentavam se aproximar. Mas não era uma tarefa fácil, e muitos morreram carbonizados pelo fogo mágico criado pelos soldados de Vulcannus.

Irritado, Brodderick arrancou de suas costas o punhal ensanguentado e, em suas mãos, criou uma flama tão poderosa que derreteu a arma. Enquanto a batalha entre soldados e homens do povo se desenrolava ao seu redor, caminhou sem pressa até o menino que tanto o incomodara. Ele agora estava retomando a consciência, mas, se dependesse de Brodderick, não seria por muito tempo.

Enquanto o general inimigo pensava em uma morte dolorosa para o garoto, Dimitri surgiu em sua frente. Metade de seu rosto estava banhada em sangue, andava com dificuldade e fraquejava ao segurar uma única espada na mão esquerda, em posição defensiva.

– Terell, você vive me dando trabalho... – Disse ele ao garoto, em um tom melancólico. – Fuja daqui e volte para casa, ou Malve vai me matar!

– Quando me contou que você veio pra cá, a minha mãe sabia muito bem que eu te seguiria! – Retrucou ele.

Abaixo da sacada, toda a cidade voltou a se agitar. A descoberta do retorno da princesa desaparecida trouxe a Amitié um novo sopro de esperança, e os habitantes abraçaram com todas as forças sua única chance de criar para si um novo futuro. Bastava uma pequena brisa morna para que todos os corações se enchessem de coragem e fé.

Soldados caídos se levantaram, e aqueles que já haviam se rendido ao destino encontraram um novo motivo para acreditar na possibilidade de vitória. Os que ainda estavam livres voltaram a lutar com todas as forças, e aqueles que já haviam sido capturados se rebelaram contra as correntes, ampliando o barulho que tomou conta da cidade. E o exército de Vulcannus pela primeira vez estremeceu frente a um inimigo que, aparentemente derrotado, voltava a se reerguer.

A Rainha da Primavera - 2ª EdiçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora