Simone
O som dos saltos ecoou no piso de mármore da recepção assim que entrei na Tebet Gold. Cada passo que eu dava parecia calculado — não apenas pelo hábito, mas porque, por dentro, eu ainda tentava organizar o turbilhão que era o meu peito.
Passei pela equipe, distribuí alguns acenos educados, o sorriso profissional que todos conheciam. Mas era só fachada. Eu sabia exatamente o que — ou quem — estava me esperando lá em cima.
Quando abri a porta da sala, o ar pareceu mudar.
Ela estava ali. Soraya.
Sentada à mesa, concentrada em alguns papéis, os cabelos caindo de lado, uma mecha solta que ela insistia em ajeitar atrás da orelha. Usava uma roupa que beirava o torturante — elegante, justa, e perfeitamente consciente do efeito que causava.
E eu, que já devia estar acostumada a manter a compostura, quase esqueci como respirar.
Ela levantou os olhos, e por um instante, o tempo simplesmente parou.
O olhar dela encontrou o meu, firme, curioso, quase desafiador.
Deus, como aquilo me desmontava.
— Bom dia, Soraya. — disse, e minha voz saiu mais baixa, mais rouca do que eu pretendia.
Tentei manter o tom sereno, mas o provocativo escapou. Sempre escapa quando se trata dela.
— Bom dia — respondeu, sem erguer totalmente o rosto, mas não conseguiu esconder o leve rubor nas bochechas.
Enquanto eu me dirigia à minha mesa, sentia o olhar dela me acompanhar, percorrer cada movimento. Fiz o possível para parecer indiferente, mas por dentro eu estava em chamas.
Soraya sabia o poder que tinha. E, pior, sabia que eu sabia.
Sentei-me, abri alguns relatórios, mas não conseguia ler uma linha sequer. A imagem dela, a lembrança da noite anterior, o toque, o cheiro… tudo voltava em ondas, me atingindo sem piedade.
Por um instante, olhei de relance — e ela já estava olhando.
Séria, mas com um canto do lábio que denunciava o jogo silencioso entre nós.
Aquela sala, antes tão fria e corporativa, agora parecia um campo minado de desejo e incerteza.
E eu sabia que, a qualquer movimento errado, tudo poderia explodir novamente.
Ela passa por mim para pegar um arquivo e sinto o perfume dela me envolver, doce e quente.
Meu corpo reage antes da mente.
Quase me viro, quase a puxo pela mão.
Mas não o faço.
Mantenho o olhar fixo no papel, como se conseguisse domar o caos dentro de mim com planilhas e gráficos.
Mas não consigo.
A verdade é que perdi o controle há muito tempo.
E agora, sentada a poucos metros de distância dela, tudo o que quero é admitir —
que estou completamente entregue a essa mulher.
O controle me escapou pelas mãos — mais uma vez. Bastou Soraya se inclinar sobre a mesa, o perfume dela cruzar o ar, e todo o resto do mundo perdeu o sentido.
Num impulso, puxei-a pela cintura, firme, como se meu corpo tivesse memória própria. Ela ofegou, surpresa, e nossos olhares se encontraram por um instante longo demais pra ser inocente. Senti o calor da pele dela sob minhas mãos, o ritmo descompassado da respiração… e, antes que pudesse pensar, minha boca já buscava a dela.
O beijo veio intenso, lento, carregado de tudo o que eu vinha reprimindo há dias. Não havia mais distância, nem disfarce — só o som baixo das respirações e o gosto de um desejo que finalmente achava passagem. Ela respondeu ao toque, e por alguns segundos eu a senti se render, o corpo dela colado ao meu, os dedos pressionando meu paletó. Era uma rendição mútua, selvagem, inevitável.
Mas o destino tem um timing cruel.
Três batidas secas na porta nos fizeram separar num salto.
Soraya ajeitou o cabelo, o batom borrado, tentando disfarçar a entrega. Eu me afastei, ainda tonta, tentando parecer no controle quando claramente não estava.
