Água

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Eu fui o primeiro a entrar. A primeira informação que eu recebi ao entrar, foi um forte cheiro de terra molhada. A sala era enorme. O chão estava encharcado. Quando eu andava, a agua se espalhava, respingando em diversos lugares. As paredes eram de pedra, mas revestido com um grosso e gelado vidro. O teto também era de vidro, e no meio dele, havia uma escotilha.

Assim que o último de nós entrou, a porta se trancou em um forte solavanco.

— Mas que porra é essa? — perguntou Zoe.

Um zumbido rompeu do teto.

— Olá, Tributos! — disse uma voz feminina, muito parecida à que me recepcionou no expresso dos Tributos — Vocês, finalmente, chegaram às Salas de Provas do Labirinto. — ela fez uma pausa — Sala de Água. — ela fez uma outra pausa — A sala começará a se encher de água quando eu der o sinal. Vocês devem tentar sair dela pela escotilha no teto. A partir do momento em que o primeiro Tributo passar pela escotilha, o cronômetro contará cinco minutos até ela ser fechada. Se algum tributo ficar fora da escotilha, quando ela estiver fechada, não há nada que ele possa fazer. A água encherá a sala até o teto, e infeliz tributo morrerá afogado. — ela fez uma pausa — Entenderam?

Não respondemos.

— Entenderam! — A voz confirmou.

A sala começou a derramar água por todos os cantos das paredes. A escotilha se abriu.

— O que faremos?! — perguntei gritando.

— Calma, Arion! — Zoe me segurou.

Kyle interveio.

— O melhor a fazermos é passarmos pela escotilha logo, antes da água nos afogar...

— Ah, sério, Kyle? — Zoe ironizou.

— Tudo bem! Se acalmem! — eu disse — são apenas três metros de altura. Zoe, você me impulsiona com as mãos, eu entro, puxo você! Kyle, você impulsiona Misty, que puxa você! Entenderam?

— Okay, tudo bem! — disse Kyle — Genial!

Zoe encolheu os joelhos um pouco, cruzou as mãos, eu me apoiei nas mãos dela e ela me impulsionou para cima. Agarrei as bordas da escotilha e puxei o meu corpo. Um enorme relógio digital apareceu refletido na parede. Ele começara a contar os cinco minutos antes mesmo de eu entrar por completo. Puxei o corpo com mais força. Apoiei os antebraços nas bordas e fiz um pouco de força. Entrei. O Relógio marcava -4:20. Me deitei sobre o vidro gelado. E estiquei o braço para Zoe. Ela me passou as mochilas, coloquei elas em cima do vidro. A água lá embaixo já alcançava a panturrilha. Ela se segurou em meu braço e eu tentei puxá-la. Sem sucesso. Ficamos nisso durante um minuto. -3:10. Kyle dobrou os joelhos um pouco, cruzou os dedos e impulsionou a Zoe. Ela entrou da mesma forma que eu. -2:30.

— Vai Misty! — Kyle gritou para ela apoiar o pé nas mãos dele.

— Não! — ela disse — eu não vou conseguir puxar você! Aposto que Zoe e Arion também não, e não tem espaço para mais de uma pessoa esticar o braço. Vai você primeiro, você é mais forte e consegue me puxar.

A água já alcançava a cintura. -1:50. Kyle se apoiou nas mãos de Misty, ela fez uma careta, e o empurrou para cima. Ele se segurou nas bordas e hesitou um pouco antes de entrar. Ele entrou e esticou o braço para Misty. -0:50. A água já havia chegado embaixo das axilas de Misty. Ela não alcança o braço de Kyle. Por mais que pulasse. A resistência da água não deixava seu corpo pular muito alto. –0:20. Misty já estava chorando. Kyle também o fazia. Ele esticou mais o braço, não havia como Misty alcançar. A água já estava cobrindo Misty. Ela estava praticamente nadando. O Cronômetro bateu 0:00. A escotilha começou a fechar. Kyle não tirou o braço. Ele chorava. A escotilha pressionava o braço mecânico dele, fazendo-o soltar algumas faíscas. Ele gritava o nome dela. Ela afundava e subia, tentando pegar, impulso ou fôlego. A escotilha pressionou mais ainda, arrancando o braço mecânico dele fora. A escotilha se fechou por completo. O braço dele caiu na água. Descendo em espiral até o fundo. Ele espancava o vidro com o único braço que o restava. Misty quase gritava quando podia, mas o som não era possível de ser ouvido. A água não cessava, até que conseguiu encher a sala inteira. Misty se debatia. Mas ainda havia ar em seus pulmões. Ela socava o vidro, mas era inútil. Até que ela percebeu isso. Se afastou do vidro. E soltou o ar dos pulmões. Aspirando água. Ela se sacodia. Seus olhos se reviravam para trás. Até que a sua última bolha de ar saiu de sua boca. Ela fechou os olhos, parou de se mover, ela era como uma folha de papel flutuando dentro da água. O som do canhão ribombou surdamente. Misty morrera.

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