Patrocínio

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Eu tentei mexer a mão, ela estava dura como pedra, então resolvi começar pelos olhos. O meu corpo inteiro ardia, eu sentia o meu rosto inchado, eu tinha gosto de sangue na boca e a minha cabeça doía como uma explosão. Não foi fácil abrir os meus olhos, eu tinha uma picada bem acima da sobrancelha direita, ela doía a qualquer movimento que meu olho fizesse, então abri o esquerdo.

Eu estava deitado no meio do labirinto, escorado em uma parede de heras, estava anoitecendo, os últimos raios de sol, pintavam a parte superior de algumas paredes, eu queria saber como tínhamos chegado aqui, mas minha garganta estava seca e inchada, o máximo que eu consegui reproduzir, foi um gemido seco. Então uma voz doce disse o meu nome.

— Arion?! — eu respondi com outro gemido inerte — Que bom que você está vivo!

A voz que eu ouvia era a de Zoe, mas tudo que eu via era um enorme borrão.

— Você, está me vendo? — ela perguntou.

Eu fiz que sim com a cabeça. Ela se deitou ao meu lado. Nós dois de barriga para o céu.

— Eu estava preocupada, eu acordei agorinha... eu vi vocês deitados aqui no labirinto, eu pensei que estivessem mortos e que eu não tinha ouvido o estouro do canhão porque estava desmaiada.

— Como viemos parar aqui? — perguntei com a minha voz rouca e arrastada.

— Eu não sei! — disse ela com tom de frustração — quando eu acordei, já estávamos aqui.

— Tem água? — perguntei.

— Tem sim, você quer?

— tem? — perguntei um tanto surpreso.

— Sim! — ela disse se levantando, era possível ver as inúmeras picadas em seus antebraços, acho que foi o que ela usou para proteger a cara. — Quando o Aerodeslizador levou o corpo do Rick, ele deixou a mochila, eu aproveitei para olhar o que tinha, eu achei mais uma... — a voz dela foi se distanciando, eu quase cochilei. Mas ela me acordou novamente. — Toma, beba só alguns goles, esta é a única garrafa que eu achei.

Dei dois fortes e profundos goles que aliviaram a minha agonia interna.

Tudo já estava ficando escuro. Então um som suave, como uma canção de ninar rompeu no céu, bem acima de nossas cabeças, olhei para ver o que era, duas cintilantes caixas de metal, amarradas cada uma em um paraquedas. Patrocínio.

Uma pousou ao meu lado, a outra caiu bem no colo da Zoe.

— Será que é para nós dois? — ela perguntou.

— Se caiu bem em cima da gente...

Arranquei o paraquedas e girei uma chavezinha do lado da caixa, ela fez um estalo macio e abriu. Dentro da caixa eu encontrei um bilhete azul, desenhado com letras cursivas. Nele estava escrito assim: "Não pense que te esquecemos! - Celly e Ethan".

— Ethan, o meu ex-mentor, está me patrocinando... — um sorriso brotou em meus lábios.

Além do bilhete azul, dentro da caixa havia um pote relativamente grande, quase do tamanho da palma da minha mão, no rótulo havia um desenho de uma árvore, uma pomada para intoxicações.

— Olha, — eu mostrei a ela — Ótimo!

— Olha, — ela me mostrou um pote do mesmo tamanho do meu, só que ao invés de um desenho de uma árvore, o dela havia um de uma teleguiada — Ótimo!

Sorrimos um para o outro. Passei os cremes no rosto, pelos braços e nas pernas, depois passamos no Kyle, que roncava, e na Misty.

Ela retirou dois sacos de dormir da minha bolsa, cobrimos Misty e Kyle, e vestimos os da bolsa do Rick.

O Hino de Panem soou no céu, os Tributos mortos de hoje foram: Rick, do Distrito 4 e Dhalia, do Distrito 11. O holograma se apagou e a escuridão tomou conta da noite.

— O que estava escrito em seu bilhete? — perguntei.

— Desculpa, Arion! — ela me olhou — Eu não posso dizer...

— Não... Claro... mm.... Tudo bem! — eu disse um pouco constrangido.

— Não, — ela riu — Não é isso, é que eu não posso falar em voz alta... mas leia. — ela me entregou o papel branco.

No papel estava escrito em letras douradas: "O público ama vocês! Zac Unique. "

— Quem é Zac? — perguntei.

— É meu pai...

— Ah... — eu não havia notado que eles tinham o mesmo sobrenome.

Ficamos em um silêncio profundo até ela quebrar o gelo.

— Se você quiser dormir, tudo bem. Eu posso ficar de sentinela esta noite!

— Ah! — exclamei — Não tudo bem, pode dormir, eu acordei agora há pouco mesmo...

Ela se acomodou no saco de dormir.

— Boa noite! — eu disse.

— Boa noite!

A coceira em meu braço já passara, e a minha pele já estava começando a voltar ao normal. Passei a mão pelo pescoço, o inchaço das picadas não estavam mais lá, isso me acalmou muito.

O céu estava muito estrelado, igual ao das noites do Distrito 7, o vento levantava a poeira do chão do corredor, e sacudia as folhas das heras.

Eu não estava com sono, mas meus olhos pesavam, e meus ombros caídos doíam. Me deitei no saco de dormir e fechei os olhos.

Eu vi meu pai segurando o cabo da pistola, apontando ela bem para a sua cabeça, seus olhos vermelhos como sangue me fitando. Abri os olhos rapidamente, o ar fugira dos meus pulmões, respirei fundo e descobri a cabeça. Resolvi passar o resto da noite acordado.

As estrelas cruzavam o céu de ponta a ponta. Dizem que se você fizer um pedido à uma estrela-candente, o pedido se realizará. Fechem bem os olhos, segurei as mãos com força e pedi sussurrando:

— Que eu não morra!

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