Capítulo VII - Olho por Olho / Parte 12: James Morris

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O medo criado pela possibilidade de ter uma arma apontada em minha direção fazia com que eu corresse e corresse, ignorando os pulmões que queimavam – malditos cigarros. Não podia ser pego! Tomava distância, minha idade – junto ao medo de ser baleado – me colocava em vantagem.

Foi quando um som psicodélico começou a emanar pela rua. Uma sensação de paz somada a um medo diferente me fizeram diminuir o passo... até parar.

Jane... O rosto dela tomou meus pensamentos. Jane...

A música era The end, de sua banda preferida, The Doors.

Os acordes iniciais me transportavam para outro mundo.

Olhava para os lados, procurando a origem daquele som, não descartando a possibilidade de que o mesmo estivesse saindo do próprio ar.

E a voz começou anunciando o fim. Os pratos da bateria preparavam um ambiente que existia apenas dentro de mim.

Jane...

E pela fresta de uma porta aberta pude ver um homem cabeludo cantando. Na porta havia um cartaz: "Hoje, cover de The Doors com a banda Strange!"

E a música era a única coisa que existia no universo naquele momento. Sentia-me evaporando. Uma torrente de pensamentos transportara-me para o passado. Os acordes da guitarra ressoavam no ar. A bateria era um prelúdio para um lamento; uma confissão.

Edgar? Edgar Visco já não existia.

O cantor... Como era o nome mesmo? Jack? Johnny? Jim... Jim! Jim Morris... Morrison? James?

"AAAAAAAH!", gritei, levando a mão à cabeça.

A torrente de pensamentos se ampliava, anos passavam em segundos. Jane. Doors. Morris. Morris...

James Morris.

E ao redor de uma fogueira, no ponto mais fundo da minha alma, ela dançava, imitando os movimentos suaves de uma serpente. Ela sorria para mim.

"NÃÃÃÃÃÃÃO!". Minha cabeça explodiria. Os cabelos negros como a noite mais escura com mexas vermelhas como chamas. Jane... Os olhos eram mais verdes do que os meus. Sim... Sim... era a melhor visão do universo.

Eu a amava.

EU A AMAVA! E a tiraram de mim.

Ele a tirou de mim.

E o som silvou do outro lado do universo. Meu braço queimava; fervia. Passei a mão sobre ele e o levei frente aos olhos.

"Sangue..."

O transe se esvaia. Virei-me. Edgar Visco me apontava sua semiautomática.

No outro universo, Jane desviara os olhos de mim e voltava a dançar em torno da fogueira, que queimava como o próprio sol.

Ela sorria...

"Jane...", segurei o pingente sob a camisa. Eu não poderia morrer. Não ainda.

Virei-me e tornei a correr.

Era a última chamada. O maldito ônibus azul estava de saída.

Ouvi outro estrondo.

Este é o fim...(?)

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