Capítulo 79 - FINAL - Além de todos os sentidos.

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Henri continuava diante de olhares múltiplos e pensativos:

__Não morremos porque nos transformamos no novo. Pois de cada átomo que hoje compõe o nosso corpo surgirá um modo diferente de existir, uma nova perspectiva. Não morremos porque novos caminhos surgem não apenas de nossos átomos, mas também de cada ação e pensamento. Não deixamos de existir porque estamos além de um só corpo, de uma só história de vida. Somos muitos e continuaremos sendo. Somos multiplicidade.

E olhando para a fogueira e depois percebendo os olhares atentos que lhe eram dedicados, Henri prosseguiu:

__Rachel pediu para que encontrássemos um sentido para a vida além da morte. Mas hoje percebi que não deve haver um sentido para a vida e tampouco há sentido em se buscar um sentido para tal, como propunha Sartre. Não deve haver um sentido porque cada perspectiva é única e não há uma hierarquia verdadeira entre elas. O final de algo não é mais importante que o começo e nem o justifica ou é justificado por ele. Um sentido limita o existir, gera uma finalidade, um fim. Subordina um conjunto riquíssimo de olhares e pontos de vista a um único, a um propósito limitado. Poderíamos pensar em várias maneiras de nos condenar, de nos aprisionar e nenhuma delas seria mais estúpida do que essa: "do que a de dedicarmos nossa vida a buscar uma justificativa que atuaria somente de modo a banalizar tudo que existe além de suas fronteiras."

Fez uma breve pausa e finalizou:

__Os Estrangeiros atribuíram o sentido de suas vidas no ato de perseguir um universo sem dor. Sem perceber eles banalizaram todo o resto que existe além dessa busca e caso um dia consigam, de fato, atingir seu objetivo; perceberão que o próprio sentido para o universo que tanto almejaram deixará de existir e eles ficarão caminhando no vazio. Reitero que todo propósito se dissolve em si próprio, nossas metas desaparecem quando as alcançamos e os alpinistas descem do topo das montanhas após atingi-los. Mas quando nada buscamos e apenas paramos para contemplar e sermos contemplados pelo universo, achamos muitas coisas, coisas que não se dissolvem após serem encontradas. Mas sim, coisas que se multiplicam, uma vez que as enriquecemos com novas perspectivas e somos enriquecidos por elas.

Os presentes aplaudiram as palavras de Henri e seguiram narrando suas visões sobre a realidade.

Fim.

Os Novos EstrangeirosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora