⋆° . 𐙚LUCY VAN PELT . ˚☆
A manhã seguinte foi... surpreendentemente calma. Quer dizer, considerando que a gente passou a noite inteira fazendo skincare, fofocando, tentando entender se a Heather gostava de alguém ou se ela só fazia mistério por esporte, e saindo de madrugada pra causar um certo caos pela vizinhança — caos esse que se baseou em uma brincadeira que visava dar um desafio criminoso para cada uma das meninas, o meu foi danos ao patrimônio público.
Estavamos na cozinha. A mesa estava uma bagunça organizada. Panquecas empilhadas, cereais de todos os formatos e cores, copos de suco espalhados como num jogo de tabuleiro aleatório, e a Marcie tentando esquentar leite no micro-ondas bem desconfiada — ela tem medo de microondas.
A Patty, encostada na bancada, processando o fato de que já estava de manhã e que era hora de acordar. Sally existindo ali, sentada na cadeira, deitada na mesa. A Frieda tava passando manteiga num pão de forma como se fosse uma obra de arte. Heather folheava uma revista antiga de moda como se quisesse reescrever os editoriais — não sei por que ela estava com aquilo. A Mya estava sentada no chão porque, segundo ela, “o chão é mais fresco”. E eu? Bem... Só tava pensando em quanto tempo de cadeia eu pegaria se descobrissem o que eu fiz ontem. Acho que a única que não tem com o que se preocupar aqui é a Marcie...
— Gente! — eu comecei, já rindo — Lembra da Marcie entrando de fininho no quarto do Charlie Brown pela janela ontem? Porque, sinceramente, essa cena não vai sair da minha cabeça nunca mais.
Desafio da Marcie: Invasão de propriedade (mansão dos Brown) e furto (roupa íntima do Charlie)
A Sally riu como uma criança. A Marcie corou imediatamente.
— Isso foi cruel. Eu ainda não sei como vocês me convenceram a fazer aquilo.
— Meu amor — disse a Heather, rindo — você roubou uma cueca, da Calvin Klein, do Charlie Brown. Isso te torna uma fora da lei.
— E o melhor — completou a Mya — é que ele nem percebeu. Ele ainda tava dormindo como um tronco... ou um morto. Os dois.
— Se isso se espalhar — falou a Marcie, com a cara enterrada nas mãos — eu nego até o fim. Posso dizer que fui vítima de um grupo de meninas cruéis praticantes de bullying que me ameaçaram a fazer esse tipo de coisa e disseram que eu seria agredida por três horas seguidas caso eu negasse.
— A gente só te deu uma lanterna e um plano — disse a Patty, com a sobrancelha arqueada. — O resto foi decisão sua.
E a gente riu.
Eu ia dizer mais alguma coisa — talvez algo sobre a próxima missão ser roubar o lustre caríssimo da Sally, só pela zoeira — quando a fechadura girou.
Eu ouvi o som da chave girando na porta da frente. Silêncio automático na cozinha, só um “clique” e depois passos entrando. Em questão de segundos, meus pais entraram, seguidos do Rerun, o caos em forma de gente, e do Linus, claro.
— Bom dia, garotas — disse meu pai, com a calma de quem ainda não viu a cueca Calvin Klein na mesa de centro da sala.
Minha mãe acenou e foi direto pra cafeteira, imune a tudo.
— Bom dia! — respondemos em coro. Era a energia da manhã pós-festa: exaustas, mas felizes.
Aí, aconteceu.
Sally. Linus. Se encarando.
E foi aquele tipo de olhar que faz o tempo parar. Tipo cena de filme em câmera lenta. Os dois ainda com a cara inchada de sono, o cabelo bagunçado, as roupas tortas de quem acabou de sair da cama… Mas, mesmo assim, dava pra ver. Tinha algo ali.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Peanuts 2006: Notas de Beethoven | Schrucy
FanfictionOito anos se passaram desde que Lucy Van Pelt deixou sua cidade natal para viver em Londres com sua família. Agora, aos 17 anos, ela está de volta, mas tudo está diferente: seus antigos amigos cresceram, amadureceram, e o colégio não é mais como ela...