Capítulo 44 - J/s

1.4K 257 111
                                        

Jasmine volkov
Dia seis

Scarllet só sossegaria quando estivesse na mansão de Monteiro. E cá estamos, sentadas no sofá dele, enquanto ela mergulha o chá dentro da água quente apenas para se distrair — não para tomar.

— A que devo a honra da visita? — Monteiro desce as escadas com um calção azul. — Bom, pela hora, suponho que seja algo de urgência.

Scarllet coloca o "chá" na mesa de centro, levantando-se em seguida. Sua mão vai na direção da arma, mas seguro o braço dela.

— Ah, meu bem, não adiantaria querer atirar em mim — ele ri. — Tenho seguranças em todos os lugares. Se você atirar, ele imediatamente atiraria em vocês duas também.

Levanto-me atrás de Scarllet. Para mim, é mais fácil falar sobre Maggie. Nunca tive proximidade e nem mesmo a conheci como as meninas — é menos doloroso falar sobre ela.

— Estivemos no hospital da sua esposa — começo, sem rodeios. — Você sabe do que estamos falando. Sabe que ela falou muita coisa.

Monteiro permanece imóvel, sem demonstrar reações imediatas.

— Nós dois somos influentes. Se eu por a boca no trombone, você se fode.

Monteiro passa os dedos na borda do corrimão, repensando internamente.

— Você transou com duas bandidas. Em tese, nós dois iríamos ser presos — ele olha para o andar de cima. — E então? Acha mesmo que eu serei o único prejudicado?

— Ocultação de cadáver é bem pior — retruco. Nessa hora, Monteiro fica mais pálido. — Ela contou. E quem garante que você não cometeu necrofilia? Era obcecado por ela.

— Posso ter guardado seu corpo, mas não tocaria na minha princesa — Monteiro desce as escadas. — Não sou um monstro. Sou um pai desesperado. Minha pobre menina... com uma bandida!? Você deixaria sua filha se relacionar com uma criminosa?!

Suspiro. Scarllet passa os dedos no cabelo, começando a andar, tentando não atirar nele ali mesmo.

— Sabemos que o problema não era Katherine ser uma criminosa. O problema é a homofobia — ando até ele. Scarllet me olha, tensa. — Maggie amava Katherine.

Os olhos dele se enchem de lágrimas. Estão sem cor há muito tempo. É explicável o porquê de ele me tratar "bem" antes de tudo — logicamente, quando queria. Ele busca alguém para substituir a filha.

— Por que não deixa Maggie ir? Pare de escondê-la dentro de casa. A alma dessa menina nunca descansou, e muito menos a sua — aproximo-me mais. — Se você enterrá-la, ninguém vai saber de nada, mas pedimos para que você liberte Katherine.

— Não é simples assim. Não foi você quem perdeu a filha — Monteiro rosna. — Eu não sou um monstro. Só queria proteger minha menina. E para isso perdi até meu filho, buscando vingança. Sabe o que ele me disse antes de se enforcar por minha culpa? Que me odiava.

— E você queria o quê? Que ele te agradecesse? — Scarllet ri, incrédula. — Eu também me mataria se tivesse você como pai.

— Já chega, vocês dois! Estamos tentando chegar a um acordo! — grito com eles. — Eu estou desesperada! Solte Katherine! Se você ama, pelo menos, a alma da sua filha, deixe ela ser solta! Não acha que Maggie iria querer isso?

Não. Ela não iria querer. Deve ter sido apenas uma garota mesquinha, mas temos que trabalhar com o que temos no momento.

— E-ela... — Monteiro deixa as lágrimas caírem, baixando a guarda. — Me ajudem a tirar o corpo do freezer — ele sussurra por fim.

Eu e Scarllet nos entreolhamos. Seguimos os três para o andar de cima. A todo momento fico atenta — não dá para confiar em um cara que guarda uma menina morta em um freezer. Ele também quase me matou.

O quarto em que entramos é de congelar. Os vidros estão embaçados, o chão de madeira escorregadio, parecendo que o lugar foi descongelado algumas vezes.

Monteiro se aproxima do freezer, abrindo o cadeado. Nunca percebi que ele tinha um colar com chave no pescoço.

Scarllet vira o rosto, prestes a vomitar. Nunca tinha visto Maggie. O rosto dela está arroxeado, as bochechas inchadas e os lábios pretos.
O cabelo intacto. A pele parece que vai ceder a qualquer momento — está áspera.

O corpo não fede, por causa da temperatura, mas há mofo em algumas partes e também feridas abertas.

Então é assim que Cole vai ficar. Coloco a mão na boca, sentindo-me enjoada também.

— Não dá pra mim — Scarllet abre a janela, pondo o rosto para fora. — Puta que pariu... não dá mesmo... — Seu peito sobe e desce com força.

— Teve coragem de jogá-la na água, mas não de vê-la agora? Quanta hipocrisia — Monteiro limpa as lágrimas. — Eu sei que você não é apenas uma refém da Katherine. É nojenta como ela.

— Você guarda essa coisa ridícula dentro de um freezer, e eu sou nojenta? — Scarlett limpa a boca após cuspir. — Vai pegar algum tecido. Não toco nesse defunto nem morta.

A piadinha do "nem morta" deixou Monteiro furioso. Mesmo assim, ele abre um armário no quarto frio e pega uma manta grande, rosa.

— Cobre o corpo com o manto. Não vou conseguir ficar olhando isso — engulo seco. O rosto dela vira o de Cole a cada olhada que dou. Isso está acabando comigo.

Scarllet beanchard

É difícil jogar um corpo da janela, mas também não seria fácil descer com o corpo petrificado pelas escadas. Maggie ficou exatamente como eu imaginava nos meus pesadelos.

Monteiro está cavando uma cova rasa. Jasmine vomita até o que não comeu nas plantas, e eu só consigo olhar para o céu, que está cada vez mais cinza.

— É melhor vocês irem, antes que Katherine se mate — Monteiro segura o corpo da filha, pondo-o dentro do buraco. — O que estão esperando? Já liguei para os policiais, eles vão liberar a saída dela, bom...se ela estiver viva.

Jasmine limpa a boca. Arregalamos os olhos ao mesmo tempo. Katherine não se mataria... a não ser que fosse para salvar nós duas.

A chuva começa a cair sobre nós. Retiro a arma da cintura. Os trovões foram ao meu favor. Quando o estrondo do raio atinge uma árvore, minha bala acerta a testa de Monteiro.

——————

15/05
Só vou postar amanhã então vocês são do futuro vey 🫦 sei nem oq carai eu to falando.

Gente eu to passada, nunca choveu tanto, a dança da chuva deu certo 😭💕

Impuro amor profano - Trisal gl Onde histórias criam vida. Descubra agora