O silêncio dentro do carro é tão pesado quanto a tensão que pulsa no peito dela. Vejo as mãos apertadas sobre as coxas, os dedos se cravando na pele exposta do vestido curto, a respiração entrecortada, rápida, como se ela estivesse lutando pra segurar algo dentro de si. Eu sei o que é. Sei porque sinto o mesmo queimando dentro de mim. Mas enquanto ela se debate contra isso, eu aceito. Eu me alimento.
Me recosto no banco, passando a língua pelos dentes antes de soltar um suspiro longo, tentando aliviar a tensão que parece querer estraçalhar meus músculos. As luzes da rua entram pelo vidro, recortando sombras pelo rosto dela, destacando os olhos cheios d’água que tentam me desafiar. Tentam, mas falham. Porque eu vejo o que tem por trás dessa raiva toda. Vejo o desejo, a rendição, a confusão. Ela pode se enganar o quanto quiser, mas não consegue me enganar.
— Vai chorar, Mavi? — pergunto, a voz baixa, rouca, carregada de uma ameaça que nem preciso verbalizar.
Ela aperta os lábios, se recusa a responder, mas não adianta. O corpo já entregou antes mesmo da boca abrir. A respiração acelerada, o tremor quase imperceptível das mãos, o arrepio subindo pela nuca quando abaixo um pouco mais o tom da minha voz. E então acontece. Uma lágrima solitária desliza pelo rosto dela, traçando um caminho quente até o queixo. Meu peito aperta, mas não de culpa. Nunca de culpa.
Solto um suspiro lento, o maxilar travando por um instante antes de me inclinar pra frente, o braço se apoiando no encosto do banco dela. Minha outra mão sobe até o rosto quente, pegando a gota nos dedos antes que caia. Eu observo, fascinado, sentindo a pele úmida sob a ponta do polegar, o rastro quente do choro me deixando inquieto.
— Eu sabia… — murmuro, passando o dedo devagar pela bochecha dela, sentindo a maciez misturada com a umidade. — Você fica linda assim.
A raiva volta com tudo, queimando no olhar dela como um incêndio prestes a consumir qualquer rastro de controle.
— Vai se ferrar, Falcão! — cospe as palavras, as mãos subindo pra me empurrar, mas sou mais rápido.
Seguro os pulsos dela com facilidade, prendendo-os ao lado da cabeça dela contra o banco. O toque quente, firme, os dedos se encaixando na pele fina do antebraço. Sinto a pulsação acelerada sob minha palma, o sangue correndo depressa demais, o coração martelando tão forte que quase posso ouvi-lo. Meu rosto está perto o suficiente para sentir sua respiração, se intensificando com a minha, quente, carregada de algo muito mais denso do que raiva.
— Eu te odeio. — A voz embarga, o soluço preso na garganta.
Eu sorrio. Pequeno, torto, perigoso.
— Então por que tá tremendo assim? — provoco, o olhar preso no dela, atento a cada mínima reação.
Ela quer gritar, me bater, fugir. Mas não foge. E isso me faz sorrir ainda mais.
Aproximo meu rosto do dela, sentindo o calor que emana do corpo quente e trêmulo. Meus lábios roçam de leve no rastro molhado da bochecha, a língua saindo por um segundo pra provar o gosto salgado da lágrima. Fecho os olhos por um instante, sentindo um arrepio subir pelo braço. Meu peito sobe e desce devagar, enquanto minha mão desliza do pulso dela pro rosto, o polegar acariciando a linha do maxilar, descendo até o queixo.
— Você nem imagina o que isso faz comigo, Mavi… — murmuro contra a pele dela, deixando meus lábios deslizarem até o pescoço, sentindo a pulsação acelerada sob minha boca. — Vê você assim… vulnerável.
Ela estremece. Eu percebo. E isso só me atiça mais.
— Eu não sou vulnerável — rebate, a voz fraca, falhando na última palavra.

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TODOS OS DEFEITOS DO AMOR
Teen Fiction[Este livro não retrata a realidade nua e crua das favelas, é apenas uma história fictícia com o intuito de entreter] ❝ Uma conexão obscena entre enteada e padrasto ❞ No meio do caos de uma invasão no morro, Falcão, dono do morro, salva Maria Vitóri...