Meu rosto queimava. O olhar das pessoas ainda pesava sobre mim, mesmo enquanto a música voltava a tocar e o baile tentava retomar o ritmo. Mas não adiantava. Todo mundo tinha visto. Todo mundo sabia o vexame que Falcão tinha me feito passar.
O burburinho não parava. Eu sentia os olhares curiosos, cochichos abafados, algumas risadinhas maldosas. Meus músculos estavam tensos, a respiração curta, o peito subindo e descendo num ritmo acelerado.
— Mavi, vamos embora — Thainá segurou meu braço, a voz baixa, preocupada.
Eu nem discuti. Queria sair dali o mais rápido possível.
Segurando minha mão, ela me puxou para fora do tumulto, atravessando a multidão até alcançarmos a saída. O ar da noite bateu no meu rosto, quente, mas ainda assim trazendo um alívio momentâneo.
— Eu não acredito que ele fez isso... — murmurei, passando as mãos no cabelo, tentando me acalmar.
Thainá bufou, pegando o celular para chamar um carro.
— Eu acredito. Esse cara é doido, Mavi. Mas agora cê tá vendo, né? Ele não vai te deixar em paz.
Eu queria rebater, mas não podia. Ela estava certa.
Começamos a descer até o pé do morro para chamar um Uber. As ruas estavam mais silenciosas naquela parte, apenas alguns grupos dispersos conversando e algumas motos passando de vez em quando.
Meu peito ainda estava pesado, misturado entre raiva e vergonha.
Mas então um barulho de motor chamou minha atenção.
Antes mesmo de virar para olhar, eu soube.
Falcão.
Ele estava ali.
De pé, encostado no carro dele, com um cigarro aceso entre os dedos e uma expressão que misturava frieza e irritação.
— Cê acha que vai sair daqui assim, Mavi? — A voz dele cortou a noite, grave, carregada de algo que fez meu corpo arrepiar inteiro.
Fechei as mãos em punhos, tentando conter a fúria crescente.
— Não só acho, como vou.
Thainá segurou meu braço de leve, tensa.
— Mavi...
Mas eu já estava andando, me aproximando dele com passos firmes, sentindo meu coração martelar dentro do peito.
— Cê perdeu a noção? — Minha voz saiu afiada, cortante. — Me faz passar essa vergonha toda no baile e agora quer me impedir de ir embora?
Ele tragou o cigarro devagar, os olhos não deixando os meus em momento algum.
— Se eu te fiz passar vergonha, é porque cê mereceu.
A raiva subiu quente, latejando nas têmporas.
— Mereço? — ri sem humor, cruzando os braços. — Porque eu tava dançando? Tá maluco?
Falcão jogou o cigarro no chão, amassando a brasa com a ponta da bota antes de dar um passo para frente, diminuindo o espaço entre nós.
— Cê sabe que não é só isso.
Minha garganta secou.
O olhar dele me segurava no lugar, me prendia de um jeito que me fazia querer gritar.
Mas antes que eu pudesse retrucar, o som de uma moto se aproximando nos fez virar o rosto. Um dos homens dele parou ao nosso lado, retirando o capacete.

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TODOS OS DEFEITOS DO AMOR
Teen Fiction[Este livro não retrata a realidade nua e crua das favelas, é apenas uma história fictícia com o intuito de entreter] ❝ Uma conexão obscena entre enteada e padrasto ❞ No meio do caos de uma invasão no morro, Falcão, dono do morro, salva Maria Vitóri...