⋆° . 𐙚LUCY VAN PELT . ˚☆
Sabe aquele tipo de manhã em que o universo inteiro parece conspirar pra te deixar levemente irritada, mas de um jeito quase divertido? Provavelmente não, por que isso é coisa dos Van Pelt.
Essa era uma dessas manhãs. E, bom, quando você é a única garota Van Pelt em um carro com três homens — sendo um deles o Linus, que é um jovem sarcástico, e outro o Rerum, que é tipo um jovenzinho inconveniente de 12 anos, irritação com leveza vira um talento de sobrevivência.
Estávamos a caminho do jogo de hóquei de campo do colégio, e o clima no carro estava algo entre “paz familiar” e “pré-guerra civil”.
Rerum, óbvio, foi o protagonista dessa história.
— Eu tô doido pra ver o jogo... principalmente pra ver o Linus tropeçando no taco de alguém e caindo de boca na bola. Eu vou rir tanto. To levando até uma câmera pra registro.
Linus bufou, ajeitando o uniforme com uma dignidade que ele acreditava ter.
— Cala a boca, Rerum. Se você não parar, eu vou enfiar a tua cabeça na privada enquanto puxo a descarga. Igual os valentões devem fazer contigo na escola.
Se papai e mamãe não estivessem aqui, ele teria falado um tanto de palavreados agora.
Eu me segurei. Juro. Mas uma risada escapou do meu nariz, e eu me virei pra Linus com aquela cara de "irmão mais velha responsável", mesmo ainda rindo.
— Linus, pelo amor de Deus. Isso não é coisa pra se dizer pra uma criança de 12 anos.
Rerum, com aquele tom debochado que ele domina, rebateu sem perder um segundo:
— O alvo de bullying da família, na real, é você, Linus, que dorme com cobertorzinho. Aos 16 anos. Cara, você é ridículo.
Linus olhou pra ele como se tivesse ouvido um sacrilégio.
— Lava essa boca antes de falar da MINHA MANTA. Aquilo ali é um cobertor de guerra, meu irmão. É uma arma secreta contra qualquer tipo de demônio. Desde que meus pés estejam dentro dele, eu tô blindado. Vai rir disso agora, mas quando satanás vier puxar teu pé de madrugada, vai ver só. Eu estarei protegido.
Silêncio...
E aí… risadas. Todo mundo no carro, até o meu pai, que dirigia com aquele jeitão calmo dele, riu.
— Rerum, deixa o seu irmão em paz — disse o papai, entre uma risada e outra. — O Linus tem um jogo hoje. Ele tem que pensar em jogadas, estratégia, e não em maneiras de assassinar o irmão mais novo. Então pare.
— Ele tem razão — disse Linus, ajeitando a roupa de novo como se aquilo desse mais autoridade. — Fica na sua, Rerum.
Rerum cruzou os braços, fez cara de indignado, levantou uma sobrancelha dramática e mandou:
— Estão tentando silenciar a voz de uma criança? É isso? Eu não posso mais me expressar? Que tipo de país é esse? Que vergonha de ser um americano!
— Ai, pelo amor de Deus Rerum, você dar dor de cabeça, moleque — falei, já sem paciência — Cala a boca e espera a gente chegar no campo. Não é tão difícil assim, criatura.
Ele me olhou com um sorrisinho sarcástico.
— Mais fácil você fechar a boca. Há menos de cinquenta anos atrás você nem poderia falar sem autorização, mulher.
Eu virei a cabeça lentamente pra ele.
— Como é que é?
Piada machista nessa idade? Esse cara tem que parar de andar com a galera do patriarcado.

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Peanuts 2006: Notas de Beethoven | Schrucy
FanfictionOito anos se passaram desde que Lucy Van Pelt deixou sua cidade natal para viver em Londres com sua família. Agora, aos 17 anos, ela está de volta, mas tudo está diferente: seus antigos amigos cresceram, amadureceram, e o colégio não é mais como ela...