Capítulo 22 - Maria Vitória (Mavi)

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Fazia dias que eu tentava enterrar os últimos acontecimentos no fundo da mente. Fingir que nada tinha acontecido, que nada tinha mudado. Mas era impossível. Meu corpo ainda lembrava cada toque, cada olhar, cada provocação velada de Falcão. Eu precisava me distrair, precisava encontrar algo — ou alguém — que me fizesse esquecer o desejo proibido que me corroía por dentro.

Por isso, quando Thainá sugeriu que fôssemos ao baile funk, aceitei sem hesitar.

Fazia tempo que eu não ia a um, mas precisava daquela energia, daquele barulho, do calor do povo dançando sem pensar em mais nada. Precisava do choque da música vibrando no peito, da sensação de liberdade que só um baile poderia proporcionar.

Mas para evitar qualquer problema, eu tinha sido cuidadosa.

Sabia que se saísse de casa arrumada daquele jeito, Falcão ia reparar. Ia perguntar. Ia implicar. E eu não queria dar satisfação nenhuma pra ele. Então, quando saí de casa mais cedo dizendo que ia estudar com a Thainá, fui vestida do jeito mais discreto possível. Jeans, camiseta larga, cabelo preso. Nada que chamasse atenção.

Foi só na casa dela, longe do olhar de Falcão, que comecei a me arrumar de verdade.

Thainá morava em um apartamento pequeno, mas bem ajeitado, num bairro um pouco mais afastado da favela. A casa dela sempre cheirava a incenso de lavanda, e a organização impecável contrastava com o caos da minha mente nos últimos dias.

— Eu ainda não acredito que você topou ir comigo — Thainá disse, enquanto revirava o armário atrás de um vestido para ela.

— Eu precisava sair um pouco — murmurei, passando o batom diante do espelho do quarto dela.

Meu reflexo me encarava com olhos atentos, analisando cada detalhe. O vestido preto curto abraçava minhas curvas, o decote discreto, mas marcante. As alças finas deixavam minha pele exposta, e o tecido justo realçava a silhueta de um jeito que me fazia sentir poderosa. Nos pés, uma sandália de salto médio, confortável o suficiente para dançar a noite toda.

— Se prepara, amiga — Thainá brincou, me analisando dos pés à cabeça com um sorriso malicioso. — Hoje tu vai ter fila de macho querendo dançar contigo.

Ri, balançando a cabeça.

— É só o que eu quero, Tha. Só me divertir.

E eu estava determinada a fazer exatamente isso.

[...]

Quando chegamos ao baile, a batida do funk reverberava no chão, nas paredes, nos corpos em movimento. O cheiro de álcool, suor e perfume barato se misturava ao calor da noite, criando aquela atmosfera eletrizante de festa. Olhei em volta, absorvendo tudo, sentindo aquela sensação familiar de euforia crescer dentro de mim.

— Hoje é nosso dia! — Thainá gritou, puxando minha mão e me arrastando para o meio da multidão.

E então a noite começou.

Nos movemos ao som da música, deixando os corpos se soltarem, sentindo a vibração do grave na pele. Ríamos, jogávamos os cabelos, deixávamos a energia do baile nos tomar por completo. Eu me sentia leve, solta, como se pela primeira vez em semanas pudesse respirar sem aquele peso no peito.

As luzes coloridas piscavam, criando sombras e contornos vibrantes no meio da multidão. Eu estava ali, tentando me perder no ambiente, deixando a adrenalina tomar conta enquanto mexia o quadril no ritmo envolvente da batida. Precisava disso. Precisava me lembrar que ainda era dona das minhas escolhas, que ainda podia sentir algo além da obsessão sufocante de Falcão.

Foi então que um grupo de garotos se aproximou.

Thainá logo engatou um flerte com um deles, e o amigo dele voltou o olhar para mim. Ele era alto, pele morena, cabelos cortados na régua e um sorriso confiante que deixava claro que estava acostumado a conseguir o que queria.

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