.° × SCHROEDER SCHULZ × °.
Acordei com a luz entrando pelo vidro da janela. Meus olhos demoraram alguns segundos pra se adaptar àquela claridade.
Eu não creio que fui estúpido o suficiente pra esquecer de fechar a cortina ontem à noite...
Virei na cama e peguei o celular no criado-mudo. 7h12. Ainda dava tempo de descansar mais um pouco, mas meu cérebro não ia permitir. Não depois de me lembrar de tudo que aconteceu ontem com a minha amiga de infância.
Desbloqueei a tela. Nenhuma mensagem nova.
Abri o chat da Lucy e digitei:
|💬 Schroeder: Bom dia, raio de sol. Hoje é dia de ir me ver ganhar um jogo ;)
Ela não respondeu de imediato, e tudo bem. Devia estar dormindo. Descansando depois de — com toda a certeza — ter passado a maior parte da madrugada em claro se culpando por não ter feito nada para evitar uma situação que não estava sob o seu controle. Sei disso por que conheço a minha Lucy.
Soltei um suspiro e joguei o celular de lado antes de me levantar. Estiquei os braços e os ombros estalaram de leve.
Entrei no banheiro e liguei o chuveiro. Enquanto a água esquentava, apoiei as mãos na pia e me encarei no espelho. Tinha olheiras. Nada que pudesse me deixa feio, mas me deixava cansado. E eu estava, cansado de verdade.
Além dos treinos de manhã todos os dias e das dores de corpo constantes, hoje havia aquilo. A cena da festa não saía da minha cabeça. A porta trancada. A Lucy desesperada batendo. O grito abafado. O cara. A Marcie. As marcas no pescoço dela. Os olhos vermelhos. A expressão quebrada.
E o Charlie, furioso, sem camisa, socando o desgraçado com tudo o que tinha. Até que eu tive que dizer pra ele parar, antes que aquilo virasse outra tragédia. E o pior? Eu não queria que ele parasse.
Depois que tiramos a Marcie de lá, chamaram a polícia. Ele foi levado. Com a cara inchada, sangrando, as mãos algemadas, o abdômen todo socado. Mal podia andar direito.
Ele saiu de lá tendo que escutar vaias e xingamentos pelo o que ele fez. Mas ninguém sabia quem era a garota. Ninguém sabia que tinha sido a Marcie. E eu particular acho que é melhor assim. Se ninguém sabe ela não vira assunto. E talvez, se os pais dela forem bem bonzinhos, ela possa ir a outra festa daqui a 10 anos.
Mas parte de mim… parte de mim sentia raiva. Porque aquilo não foi justo. Porque provavelmente aquele moleque é rico e vai se safar da prisão se os pais dele quiserem. Porque aquele idiota ainda respirava e estava sujeito a arruinar a vida de outras mulheres.
Sacudi a cabeça, entrei no chuveiro e deixei a água cair no meu corpo, como se pudesse limpar a memória.
Hoje era dia de jogo. Eu precisava estar inteiro. O foco 100% no campo.
°˖ ☾ . Schroeder ⋆ 𖤓 。°.
Depois de me vestir — calça de moletom escura, uma camiseta cinza justa e um relógio de prata comum no pulso —, desci as escadas. A casa estava calma, já dava pra sentir o cheiro de café da manhã vindo da cozinha. Susan já devia estar de pé. Sempre acordava cedo nos dias de jogo.
Na cozinha, a mesa estava linda. Realmente, dava até gosto de ver. Tinha ovos mexidos, pães integrais, aveia com frutas, panquecas de banana, mel, suco natural, iogurte, granola, uma tigela com morangos cortados e até um prato com salmão grelhado. Tudo organizado com perfeição.
Susan tava na ponta da mesa, mexendo o café na xícara de porcelana favorita dela — fui eu quem fiz a pintura quando tinha 7 anos. A xícara é cheia de desenho de notas musicais

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Peanuts 2006: Notas de Beethoven | Schrucy
FanfictionOito anos se passaram desde que Lucy Van Pelt deixou sua cidade natal para viver em Londres com sua família. Agora, aos 17 anos, ela está de volta, mas tudo está diferente: seus antigos amigos cresceram, amadureceram, e o colégio não é mais como ela...