⋆° . 𐙚LUCY VAN PELT . ˚☆
Faltar aula nunca foi um problema pra mim. Especialmente quando o motivo envolve andar de mãos dadas com o meu quase-namorado, dentro do shopping mais caro da cidade, brincando de ser uma garota rica, quando obviamente não passo de uma classe média alta.
Hoje a escola ficou no segundo plano. O Charlie e a Sally resolveram que a vida é curta demais pra se gastar ouvindo aulas sobre trigonometria às oito da manhã. Eles convocaram o grupo: eu, Schroeder, Linus e Franklin. A proposta? Um dia de compras e diversão antes da tal festa que o Charlie vai dar hoje à noite. Como resistir?
Linus se convenceu de participar em dois minutos. Quer dizer, ele mal tentou resistir, pra ser honesta. Era óbvio que ele só tava indo por causa da Sally. Sally pede, Linus faz.
O Schroeder, por outro lado, foi mais engraçado. Ele disse que não queria ir. Disse que tava no clima pra loja de roupas, que não era a "vibe" dele. Mas foi eu dizer que eu ia, e ele mudou de ideia na hora. Eu ainda tentei dizer:
— Docinho, você não precisa ir só porque eu vou, tá?
E ele, com a cara mais séria do mundo, disse:
— Mas eu quero ir...
Ai.
Isso que ele tá fazendo, esse grude meio bobo, meio ridículo, é a coisa mais linda do mundo. É o tipo de coisa que eu sempre sonhava quando criança, quando eu ficava sentada na cama imaginando meus cenários delirantes. E agora... agora tá acontecendo.
Tudo tá no lugar.
⋆° . 𐙚Lucy ˚. ☆
O shopping não estava lotado, mas também não tava vazio. Tinha um movimento constante, uma musiquinha ambiente chique, perfume caro no ar. Sabe aquele cheiro de loja que cobra 600 reais numa blusa básica? Então.
Eu e o Linus andávamos lado a lado, trocando comentários em sussurros, rindo das vitrines com roupas ridiculamente caras — e, em sua maioria, ridiculamente bregas ou básicas.
— Esse lugar é tão de gente rica que acho que a gente devia tá pagando até pra respirar esse ar purificado — ele disse, olhando pros lustres de cristal que pendiam do teto.
— A atmosfera é cobrada por metro cúbico, certeza — respondi.
Schroeder, que vinha andando de mão dadas comigo, ouviu e soltou uma risadinha.
— Vocês são ridículos. Parem com isso. Estão parecendo que vieram de um subúrbio.
— Apenas sendo consciente da nossa realidade de classe inferior — Linus rebateu, sem perder o tom debochado.
— Não é "nossa", é só a sua — disse Schroeder, virando-se de leve pra ele enquanto andava. — Como a minha futura esposa, Lucy não é mais da sua laia. — ele brincou.
— Ah para. — Linus gargalhou. — Elitista escroto do caralho.
Schroeder soltou uma risada nasal. Eu ri junto.
— Não seja cruel — falei, cutucando o braço dele. — E tenta ser um pouco mais humilde, vai.
Ele parou de andar, soltou a minha mão, pegou a carteira e tirou um cartão de crédito preto. Sem pensar duas vezes, estendeu pro Linus.
— Toma. Usa aí.
Linus arregalou os olhos.
— Qual a senha? E qual o limite?
— Senha é 0303. E não tem limite.
O meu coração deu uma batida agressiva. Fiquei olhando pra ele, tentando fingir que aqueles números não era nada demais. Mas era.

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Peanuts 2006: Notas de Beethoven | Schrucy
FanfictionOito anos se passaram desde que Lucy Van Pelt deixou sua cidade natal para viver em Londres com sua família. Agora, aos 17 anos, ela está de volta, mas tudo está diferente: seus antigos amigos cresceram, amadureceram, e o colégio não é mais como ela...