O barulho abafado das arquibancadas vibrava ao fundo, mas tudo parecia distante para Zoe. Seus passos ecoavam pelos corredores frios do ginásio enquanto ela apertava os punhos, como se quisesse esmurrar o silêncio. Ela nem esperou os outros terminarem a conversa no vestiário — precisava de ar. Precisava de espaço. Precisava não gritar.
Ela dobrou uma esquina, encontrou uma sala de aquecimento vazia e entrou sem pensar duas vezes. Fechou a porta com um baque seco e ficou ali, encarando o próprio reflexo no espelho suado da parede. A rival que ela derrotou ainda estava viva na memória — com os olhos arrogantes, com aquele jeito de quem achava que Zoe ainda era a mesma de dois anos atrás.
“Ela caiu. Fria. Rápida. Como devia”, murmurou para si mesma.
Mas não era por isso que sua garganta ardia. Nem por isso que seus olhos estavam quase tremendo de raiva.
Era porque ele não viu.
Não viu ela se erguer com sangue nos lábios e dominar a luta com a precisão de quem renasceu no tatame.
Não. Ele estava olhando a maldita Zara Malik.
Zoe deu um chute no saco de treino pendurado à sua frente, o impacto fazendo o suporte ranger. Um, dois, três socos. Outro chute. Um grito preso entre os dentes. O saco balançava como se sentisse a fúria contida nela.
— Você está com raiva — disse uma voz atrás dela.
Ela parou. Não precisava virar pra saber quem era. O tom calmo, a presença pesada. Sentia o cheiro da loção de treino dele misturado com suor e algo que nunca soube nomear — talvez fosse arrependimento.
— Só percebeu agora, Sensei? — disse ela, virando devagar, os olhos faiscando. — Ou estava muito ocupado observando a dançarina da plataforma ao lado?
Wolf manteve a postura firme, mas o olhar dele baixou por um segundo. Só um. Mas o suficiente para irritá-la ainda mais.
— Eu vi sua luta. Depois. Vi a gravação. Você foi incrível, Zoe.
Ela bufou, sarcástica.
— Depois? Ah, que gentil. Fico feliz em saber que eu fui digna do seu replay.
Silêncio.
Ele deu um passo à frente, cauteloso, como se pisasse em gelo fino.
— Não é o que você tá pensando. Eu só… me distraí.
Zoe riu, seca.
— Você me deixou há dois anos, Wolf. Sumiu sem uma palavra. E agora aparece aqui, me ignora durante a luta mais importante do torneio, e acha que “me distraí” resolve alguma coisa?
A raiva queimarava o peito dela, mas também tinha outra coisa ali, escondida por baixo: medo. De acreditar de novo. De ser largada de novo. De abaixar a guarda e cair.
Ele deu mais um passo, mas ela levantou a mão, firme.
— Não encosta.
Wolf parou. Os olhos dele diziam tudo que a boca não ousava dizer. Arrependimento, sim. Mas também desejo, carinho, saudade.
Zoe respirou fundo, tentando acalmar o coração que parecia socar as costelas por dentro.
— Eu vou lutar de novo. Em minutos. Não preciso de você me deixando confusa.
— Eu não vou embora dessa vez — disse ele, a voz mais baixa, quase suplicante.
— Já ouvi isso antes — ela respondeu, virando-se de volta para o espelho, como se encarasse a guerreira que ele nunca conseguiu quebrar.

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Dual destinies | Cobra Kai - Wolf
ActionZoe era uma jovem tranquila, bastante habilidosa em artes marciais, um talento herdado de seus pais. Apesar de ter pais amorosos, Zoe sempre teve que lutar para ter o que queria, as vezes literalmente, por isso não foi um problema pra ela ter que ap...